Acordo não muda relação com EUA, diz diplomata

“Queremos ter acordo de acesso ao mercado com os Estados Unidos. Eles é que nunca quiseram. E isso é independente da Venezuela.”

É assim que uma fonte do Itamaraty responde às críticas segundo as quais a presença venezuelana no Mercosul fecharia as portas aos Estados Unidos. Além do mais, diz a fonte, os EUA seguem sendo os maiores parceiros comerciais da Venezuela, como importadores de petróleo e também como fornecedores de produtos.

Isso, apesar de o Brasil vir deslocando os Estados Unidos do mercado venezuelano, com a substituição de produtos americanos por brasileiros, assinala a fonte. Em 2003, as exportações do Brasil para a Venezuela somaram US$ 600 milhões; no ano passado, saltaram para US$ 3,5 bilhões. Empresas brasileiras também têm sido beneficiadas com contratos na Venezuela, acrescenta. 

Com a União Européia, o diplomata acredita que se possa chegar a um acordo já no fim deste ano, uma vez concluída a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). “Acordos de acesso a mercado não têm nada a ver com política”, garante o diplomata. Segundo ele, a Cláusula Democrática do Mercosul foi pensada para “problemas maiores, como golpes de Estado”, e não se aplica aos pecadilhos venezuelanos.

“Chávez abusou, fez uma grosseria e fomos obrigados a responder”, admite a fonte, referindo-se ao ataque ao Congresso brasileiro. “Acho que ele ficou surpreso.” O diplomata reconhece também que negociar com os venezuelanos nem sempre é muito agradável. “Tivemos que dar uns apertões”, conta ele. “Dava a impressão de que era o Mercosul que estava entrando na Venezuela. Eles queriam uma série de concessões.”

‘PROBLEMINHAS’ 

Assim como a Bolívia, que “de vez em quando nos dá uns probleminhas”, o Brasil tem de lidar com a Venezuela, que afinal é sua vizinha, raciocina o diplomata. E a política brasileira, ao contrário da americana, é “integrar” em vez de “isolar” os criadores de problemas. “Tem que saber ir lidando”, 

descreve a fonte. “Quando passa dos limites, vai lá e dá uma traulitada.”

Apesar dos percalços, no Itamaraty acredita-se que a adesão seja altamente compensadora. “A entrada da Venezuela, terceira maior economia e grande produtora de energia, dá outra dimensão ao processo de negociação comercial”, diz a fonte, dando a entender que ela transcende a própria união

 

aduaneira: “No fundo, estamos tentando ampliar o processo a partir do Mercosul.”

Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*