Assembléia examina vídeos de tiroteio em Caracas

 

CARACAS – A sessão de ontem da Assembléia Nacional, a primeira depois do golpe seguido de contragolpe no fim da semana, converteu-se numa guerra de vídeos, com os deputados do governo e da oposição procurando demonstrar que os disparos que mataram 15 pessoas na manifestação de quinta-feira partiram do outro lado.

 

O deputado Juan Barreto, do Movimento Quinta República (MVR), que apóia o presidente Hugo Chávez, exibiu, num telão montado no plenário, um vídeo que comprova, segundo ele, o envolvimento da Polícia Metropolitana (PM) nos assassinatos, que serviram de pretexto para o golpe de Estado. A PM está subordinada ao prefeito de Caracas, Alfredo Peña, que faz oposição a Chávez.

Até agora, as filmagens exibidas de disparos contra os manifestantes incriminavam membros dos “círculos bolivarianos”.

“Vou mostrar agora as imagens que as televisões não mostraram”, anunciou Barreto. As primeiras imagens foram gravadas na Avenida Baralt, perto do Palácio Miraflores, na frente do qual se concentravam simpatizantes de Chávez, e para onde se dirigiam manifestantes contrários a ele. Um homem – que segundo o deputado é um militante chavista – cai morto, alvo do disparo de um franco-atirador. Na segunda cena, um homem abre fogo com uma submetralhadora, e um policial com uniforme da PM, de pé perto dele, não esboça reação.

Na terceira tomada, policiais metropolitanos uniformizados entram na carroceria fechada de uma caminhonete sem placas e sem insígnias. Em seguida, no meio de uma correria, um franco-atirador é detido, enquanto outro militante bolivariano – segundo o deputado, conhecido como O Velho – cai morto.

Nesse ponto, o deputado Pastor Heydra, da Ação Democrática, um dos mais ferozes opositores do governo, começou a gritar que a oposição estava sendo intimidada pela presença de militantes bolivarianos. A exibição foi interrompida e o presidente da Assembléia, William Lara, aliado de Chávez, deu uma rápida entrevista coletiva, em que contou que, mais cedo, os oposicionistas haviam reclamado da presença de homens de camisetas vermelhas – a cor favorita dos bolivarianos – no prédio.

Lara foi averiguar pessoalmente e constatou que eram empregados da Coca-Cola demitidos, que tinham ido se queixar da sorte com alguns deputados. Os arredores da Assembléia estavam fortemente vigiados pela Guarda Nacional e pela Polícia Metropolitana.

Recomeçou a exibição do vídeo. Sua última imagem mostra um franco-atirador disparando nas costas de uma militante do partido de oposição Primeiro Justiça. Ela cai, morta. Chávez já havia relatado que, na noite de quinta-feira, um general lhe mostrou a cédula de identidade de um policial metropolitano detido em flagrante quando disparava contra a multidão. O presidente sustentou que houve assassinatos dos dois lados.

O prefeito Alfredo Peña defendeu a Polícia Metropolitana, mas disse que, se ficar provado que um policial disparou contra a multidão, receberá “pena máxima”.

O deputado Julio Borges, do partido Primeiro Justiça, também levou, mas não exibiu, uma fita de vídeo que, segundo ele, continha imagens de deputados governistas dando ordens a soldados da Guarda Nacional, e de integrantes da Guarda disparando.

Outras filmagens, exibidas pelos canais de TV, mostram quatro homens, com pistolas 9 mm, que se alternam saindo de trás de uma parede num dos lados do Viaduto Carmelitas, sobre a Avenida Urdaneta, que passa na frente do palácio. Eles miram na multidão e disparam seguidas vezes, com as pistolas semiautomáticas. Os quatro foram identificados como membros do MVR – um deles, vereador por um distrito chamado Sabana Grande – ou militantes bolivarianos. Também foram usados por franco-atiradores um hotel e um edifício pertencente ao município de Libertador, na Grande Caracas, cujo prefeito, Freddy Bernal, é afilhado político de Chávez.O deputado Rafael Marín, da Ação Democrática, qualificou as filmagens exibidas por Barreto de “farsa” e disse que os bolivarianos flagrados disparando “nem sequer estão detidos”.

Dois dos supostos franco-atiradores foram deixados em liberdade porque os investigadores não reuniram provas a tempo, lamentou ontem o defensor público Germán Mundaraín.

Chávez garante que as investigações serão transparentes. O diretor da Polícia Judiciária, Miguel Dao, no entanto, foi suspenso do cargo, acusado de ter cometido excessos na sexta-feira.

 

Depois do golpe, os investigadores realizaram batidas em busca de armas em várias repartições do governo e casas de funcionários, e detiveram o ministro do Interior e Justiça, Ramón Rodríguez Chacín, por porte ilegal de arma. Dois promotores que trabalhavam nas investigações também foram suspensos. O chefe do Ministério Público, o procurador-geral Isaías Rodríguez, é homem de confiança de Chávez.

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