Chávez congela laços com Bogotá

Venezuelano chama Uribe de mentiroso e diz que não confia em nenhum funcionário colombiano

 

CARACAS

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou ontem que pôs “no congelador” as relações com Bogotá, que revogou seu papel de mediador para a libertação de reféns do grupo guerrilheiro Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). No sábado, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, tinha dito, num comunicado, estar disposto a “manter um diálogo construtivo” com Chávez.

“Declaro ao mundo que estou colocando as relações com a Colômbia em um congelador, pois não acredito em ninguém no governo colombiano”, afirmou Chávez. “O que o presidente da Colômbia fez foi dar uma brutal cuspida em nosso rosto. Ele emitiu um comunicado cheio de mentiras e isso é grave”, acrescentou. “Se Uribe quer romper as relações, que faça isso, pois eu não as romperei, mas é muito triste que haja um presidente mentiroso e ele não mostre a cara”.

Chávez pediu aos militares que estejam em “alerta”, pois os anúncios de ontem eram “graves”. Ele assinalou que as relações com a Espanha também estão congeladas, após a discussão que teve na semana retrasada em Santiago, durante a cúpula ibero-americana, com o rei Juan Carlos, que o mandou calar a boca.

No sábado, Chávez já havia desmentido a versão do governo colombiano sobre os motivos do cancelamento de sua atribuição de mediador com com as Farc. Ele afirmou que Uribe cedeu a pressões dos EUA para não levar adiante o processo de paz.

Chávez fez um relato oposto ao de Uribe sobre o conteúdo da reunião de ambos durante a cúpula ibero-americana. Segundo o venezuelano, ficou acertado que as Farc libertariam unilateralmente um grupo de reféns e, em seguida, seria instalada uma mesa de diálogo em San Vicente del Caguán, no centro-sul da Colômbia, o mesmo palco do fracassado diálogo com o governo do ex-presidente Andrés Pastrana, em 1999. Chávez e o líder das Farc, Manuel Marulanda, participariam dessas negociações. 

“Estava colocada uma fórmula que ia no caminho do êxito, mas há gente muito próxima a ele (Uribe) que quer a guerra, sobretudo os gringos, porque não lhes importa a vida, nem essas crianças, mulheres, homens, pais, mães, esposos e esposas”, disse Chávez no sábado em entrevista ao programa La Hojilla (lâmina de barbear), da TV estatal. 

Uribe pôs fim à mediação depois que Chávez telefonou para o general Mario Montoya, comandante do Exército colombiano, na tentativa de convencê-lo a criar uma zona desmilitarizada para as negociações, medida sempre descartada pelo presidente da Colômbia. “Eu me sinto traído em minha boa fé”, queixou-se Chávez. “Uribe o mínimo que deveria fazer, tão logo o general Montoya foi ao palácio e lhe disse que falei com ele, era me ligar, enviar-me alguém: ‘Chávez, esclareça-me isso’, e eu teria esclarecido.”

Segundo o alto comissário da paz colombiano, Luis Carlos Restrepo, Uribe havia recusado uma oferta de Chávez para ligar para Montoya, para conversar sobre esse tema. “Hugo, você não pode falar com meus generais, porque vão virar chavistas. Tudo o que for preciso falar sobre esse tema, falamos nós dois”, teria pedido Uribe, segundo relato de funcionários colombianos citados pelo jornal El Tiempo, de Bogotá.

Chávez nega ter sido proibido de falar com Montoya. “Tenho dúvida sobre se Restrepo é comissário da paz ou da guerra, porque ele mente”, disse Chávez na entrevista. “Perdi a confiança, e isso para as relações bilaterais é grave”, advertiu. “Isso vai afetar as relações bilaterais. Uribe rompeu um compromisso. Isto é muito grave.” 

Essas frases fizeram soar o alarme no Palácio de Nariño, em Bogotá. Empresários colombianos manifestaram ao governo preocupação em relação ao comércio bilateral. A Venezuela caminhava para retornar à Comunidade Andina de Nações (CAN) – da qual Chávez se retirou intempestivamente em abril do ano passado – e a chegar a um acordo com a Colômbia sobre disputas fronteiriças. 

Restrepo leu no sábado um comunicado do governo colombiano, no qual exortou: 

“Não devemos cair em armadilhas do terrorismo.” O texto põe em dúvida a disposição real das Farc de soltar os 49 reféns, incluindo a ex-senadora e ex-candidata a presidente Ingrid Betancourt.

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