Chávez levou 7 horas para admitir a derrota

O CNE já sabia desde as 18 horas de domingo que o ‘não’ tinha vencido

 

CARACAS

Desde as 18h de domingo, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) sabia que a oposição havia vencido o referendo sobre a reforma constitucional. O órgão, controlado por chavistas, que havia prometido divulgar o primeiro boletim por volta de 19h, deixou o país em suspense até a 1h15 (3h15 em Brasília) da madrugada de hoje, quando finalmente anunciou a vitória do “não”. Imediatamente depois, em cadeia nacional de televisão, o presidente Hugo Chávez reconheceu a primeira derrota desde a sua primeira eleição, em 1998.

“Tentaram atrasar a divulgação, na esperança de que os números mudassem”, disse ao Estado o observador internacional português José Albino Silva Peneda, deputado do Parlamento Europeu. “Há quem diga que estavam convencendo Chávez a aceitar a derrota”, continuou Peneda, que chefiou a missão de observadores internacionais na tumultuada eleição parlamentar de 2005. “Mas a pressão para divulgar o resultado estava muito forte. Os partidos de oposição tinham os números.”

A demora do CNE em divulgar o boletim gerou enorme tensão. Nas portas do CNE, dirigentes oposicionistas exigiam uma satisfação. “Bravo povo da Venezuela, não durma”, exortou Antonio Ledezma, do Comando Nacional de Resistência, que liderou a campanha contra a reforma. “A madrugada é perigosa.”

O gráfico da contagem, obtido pelo Estado, mostra que em nenhum momento o “sim” ficou acima do “não”, ao contrário das pesquisas de boca-de-urna realizadas pelos três principais institutos do país, que previam a aprovação da reforma por uma margem de seis a oito pontos porcentuais. E ao contrário, também, do que deu a entender o vice-presidente Jorge Rodríguez, que comandou a campanha em favor da reforma e afirmou, no fim da noite, que “a disputa estava apertada”, sugerindo que o “sim” e o “não” oscilavam de posição na contagem. Não oscilavam. 

No início da contagem, o “não” vencia por margem expressiva, de mais de oito pontos porcentuais. No horário em que o CNE tinha se comprometido a divulgar o primeiro boletim, essa margem tinha caído para quatro pontos, mas seguia consistente (ver gráfico). Ao reconhecer a derrota, Chávez deixou claro que tinha acompanhado passo a passo a contagem do CNE, dirigido por cinco “reitores”, dos quais quatro são vinculados ao governo.

“A situação veio se complicando, por distintas razões, durante a tarde, com diferenças microscópicas, mas sempre com o ‘não’ por cima”, reconheceu o presidente, num pronunciamento excepcionalmente sóbrio, no Palácio Miraflores, à 1h30 (3h30 em Brasília) da madrugada. “O dilema em que me debatia, se não era irreversível, vamos submeter o país, a Venezuela não merece uma tensão como essa”, balbuciou Chávez, aparentemente ainda um pouco perturbado. 

 

Recuperando o seu estilo ferino, o presidente encontrou ânimo para esnobar: “Essa vitória ‘pírrica’ (de alto preço) eu não teria querido.” E para fazer uma recomendação à oposição: “Saibam administrar essa vitória.” Na platéia se encontravam seus principais ministros e assessores, vários deles com os olhos vermelhos. Também estavam a senadora colombiana Piedad Córdoba, devidamente vestida de vermelho-púrpura, a cor oficial dos chavistas, e a mãe e a irmã da ex-candidata a presidente da Colômbia Ingrid Betancourt, refém das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). “Sigo às ordens”, disse ele às três mulheres, referindo-se a seu papel de mediador, do qual foi excluído pelo presidente Álvaro Uribe.

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