Chávez procura apaziguar Forças Armadas

CARACAS – O presidente Hugo Chávez procurou apaziguar ontem as Forças Armadas e tranqüilizar os envolvidos no golpe da semana passada, em meio a insistentes rumores sobre novas conspirações e agudos conflitos internos entre os militares.


Chávez garantiu que compreende a situação de muitos militares que tiveram de obedecer ordens, enquanto outros foram manipulados, isentou o general Lucas Rincón Romero, responsável pela versão, agora desmentida, de que o presidente havia renunciado, e acenou até com o relaxamento da prisão dos protagonistas do golpe.

Em sua primeira entrevista coletiva depois de ter reassumido o poder, na madrugada de domingo, o presidente disse ter consultado o promotor militar que investiga o general Efraín Vásquez, então comandante do Exército e um dos líderes do golpe, para ver se ele poderia “ir para a casa”. Chávez disseque conhece a mulher e filhos de Vásquez, que “um homem não pode ficar preso dessa maneira”, e acrescentou: “Não vou fazer com eles o que fizeram comigo.

Não vou mandar ninguém para uma ilha, incomunicável.”

O presidente afirmou, também, que fez a mesma consulta ao promotor civil que conduz o caso do empresário Pedro Carmona, que foi empossado presidente pelos golpistas. Chávez lembrou que telefonou para Carmona quando ele assumiu a presidência da Fedecámaras, a principal entidade empresarial do país, para convidá-lo a conversar. Segundo Chávez, Carmona, assim como os comandantes militares, foram usados por forças inimigas, que ele não identificou.

Horas após a entrevista de Chávez, Carmona, que estava preso no Forte Tiuna, sede do Ministério da Defesa, foi autorizado a ir para casa, para cumprir prisão domiciliar. “Tenho recebido um tratamento digno, sob o ponto de vista humano, por parte da polícia”, afirmou. Ele pediu “calma e reconciliação” à população. Até o fim da noite, Vásquez – que foi substituído no comando do Exército pelo general Julio Gracie Montoya – e outros rebelados militares ainda estavam presos no Forte Tiuna.

Chávez se preocupou em explicar detalhadamente por que Rincón Romero, que ele manteve no cargo de inspetor-geral das Forças Armadas, afirmou que o presidente havia renunciado, apresentando, em seguida, a própria renúncia.

Segundo Chávez, o que ele disse a Rincón, pelo telefone, foi que “abandonaria o cargo”. Isso porque, pressionado a renunciar, ele leu na Constituição que o abandono do cargo tem que ser declarado pela Assembléia Nacional. Com isso, pensou, ganharia tempo.

Chávez procurou apresentar evidências de que a sua destituição fora premeditada. Segundo ele, foi encontrada no palácio “uma faixa presidencial com um zíper atrás, para se adaptar às medidas dos vários postulantes ao cargo”. O presidente disse, também, que os embaixadores venezuelanos em Brasília, Washington, Bogotá e La Paz vieram para Caracas e “estavam aqui na sexta-feira cedo”, como se soubessem do que ia acontecer. O mesmo teria acontecido com políticos vindos de vários pontos do país para a capital.

Mesmo assim, o presidente procurou demonstrar desejo de buscar a reconciliação nacional, num país cuja polarização o levou à beira da convulsão. Ele antecipou para hoje a instalação do Conselho Federal de Governo, cuja criação estava prevista para quinta-feira. O Conselho coordenará a realização de “mesas redondas de diálogo”, nas quais, pela proposta do presidente, representantes de todos os partidos, sindicatos e associações debateriam todos os temas pertinentes ao governo.

Chávez não deixou claro que tipo de influência concreta as propostas apresentadas nesses debates teriam sobre o seu governo. Mas acenou com a possibilidade de emendas na Constituição por ele promulgada em 1999, ano em que tomou posse. A oposição não demonstrou entusiasmo em participar das mesas de diálogo.

O presidente foi mais concreto em relação à composição da direção da PDVSA, a estatal do petróleo. “Estamos às ordens para formar a nova diretoria”, ofereceu o presidente. A substituição dos diretores da PDVSA por homens de confiança do governo, no dia 7, foi um dos motivos da greve geral e das manifestações da semana passada, que culminaram na deposição de Chávez.

 

O presidente contou que a diretoria por ele empossada há uma semana renunciara ao meio-dia da quinta-feira, diante da enérgica reação da corporação. “Mas estava um turbilhão tão grande que não deu nem para anunciar a renúncia coletiva.” Mas Chávez advertiu que “os funcionários da PDVSA têm que entender que ela pertence ao Estado”. O governo vai insistir na reestruturação da companhia, visando à redução dos custos: “O barril de petróleo da PDVSA custa o triplo do produzido pela Shell e Mobil sob as mesmas condições.”

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