‘Chávez ressuscitou no terceiro dia’

Manifestantes dizem que presidente é o único que se lembrou dos pobres

 

CARACAS

As manifestações de indignação, arruaças e intimidações promovidas no sábado pelos simpatizantes de Hugo Chávez deram lugar ontem a uma festa na frente do Palácio Miraflores. Ao som do oropo, a música típica dos Llanos, região natal de Chávez, centenas de pessoas foram demonstrar sua alegria – e a mística que prende o presidente aos setores mais pobres da 

população. 

“Chávez foi crucificado, morto e sepultado, e ressuscitou no terceiro dia”, interpretou Dalgi Carbajal, de 39 anos, funcionária do Arquivo Geral do Ministério das Finanças. “No sábado, foi a glória; no domingo, a ressurreição.” A dona de casa Lucilia Jimenez, de 49 anos, balançava a cabeça, em aprovação: “Ele é o único presidente que lembra que os pobres existem.”

“Os oligarcas odeiam Chávez porque ele quer aos pobres”, explicou Sónia Sanguino, presidenta da Associação de Vendedores da Economia Informal da Rua San Martín. Ela conta que os 2 milhões de camelôs eram maltratados pelos presidentes anteriores, Carlos Andrés Pérez e Rafael Caldera. “Chávez nos deixou trabalhar tranqüilos nas ruas de Caracas.”

O comerciante José Luis Caguarupa garante que é mentirosa a versão de que agentes do governo 

dispararam contra a multidão durante a manifestação pela renúncia de Chávez na quinta-feira. “Os militares estavam aqui na área do palácio e os manifestantes foram mortos a cinco quadras daqui”, argumentou Caguarupa, que diz que testemunhou os incidentes. 

“As Forças Armadas não são instruídas a reprimir o povo, mas apenas a manter a ordem”, disse Jimmy Rojas, ex-soldado da Guarda Nacional. “O problema é que há grupos infiltrados. Acredito que haverá investigação e os culpados terão de pagar pelo que fizeram.” Os incidentes, que deixaram 15 mortos e 350 feridos, foram o pretexto usado pela cúpula das Forças Armadas para 

intervir.

“Em cada eleição, em cada plebiscito, o povo tem demonstrado sua vontade”, disse Rojas, referindo-se às vitórias de Chávez em sete votações consecutivas realizadas no país nos últimos três anos. “Chávez é o presidente do qual a Venezuela necessitava havia muitos anos”, concordou 

Ricardo Alpa, de 66 anos.

“Ele é o primeiro presidente da história que entrou no coração dos venezuelanos”, garantiu Omaíra Reyes, líder comunitária na periferia de Caracas. “É claro que houve falhas. A Venezuela foi muito destruída pelos bandidos que governaram o país nos últimos 40 anos.” Omaíra trabalha no 

 

Fundo Único Social, rede de assistência do governo mantida com recursos da exportação de petróleo e dos impostos, que provê a população pobre com serviços sociais. “Quando o levaram, nos sentimos órfãos”, testemunhou.

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