Crise pressiona Chávez a tentar mudança agora

Desemprego tende a aumentar e queda do preço do petróleo deve reduzir verbas para programas sociais

 

CARACAS

Há apenas 14 meses, Hugo Chávez foi derrotado num referendo em que tentou introduzir a reeleição ilimitada na Constituição, ao lado de outras reformas que concentravam mais poder no governo central. Há duas explicações para que tenha tentado de novo ontem, dizem os analistas: a oposição está exaurida financeiramente, depois das eleições estaduais e municipais de novembro, enquanto o governo usa os recursos do Tesouro; e a crise econômica que se avizinha pode diminuir as chances futuras de Chávez em disputas como esta.

O barril do petróleo venezuelano foi vendido em média por US$ 88 no ano passado. Este ano, estima-se que o preço médio será de US$ 35. Além disso, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) cortou em 12% a cota venezuelana. A exportação de petróleo representa 25% do Produto Interno Bruto do país. A receita do petróleo no ano passado somou cerca de US$ 80 bilhões; este ano, deve atingir no máximo US$ 40 bilhões. A queda da cotação em 2008 já fez o governo sacar US$ 11,5 bilhões de suas reservas, que caíram para US$ 30 bilhões, para manter gastos públicos e importações.

No ano passado, a Venezuela registrou a maior inflação da América Latina: 31,9%. O índice de janeiro, 2,3%, projeta inflação anualizada de 35%. A alta dos preços é resultado do aumento dos gastos do governo, da dependência de importações, da falta de investimentos na produção industrial e agrícola e da desvalorização da moeda. O dólar é cotado a 2,15 bolívares fortes no câmbio oficial e a 5,10 bolívares fortes no paralelo, que influi sobre os preços dos importados.

Desde a chegada de Chávez ao poder, em 1999, metade das empresas venezuelanas fechou. “A Venezuela se desindustrializou”, diz o economista Teodoro Petkoff, diretor do jornal Tal Cual, de oposição. As importações de países como EUA, Colômbia e Brasil aumentaram exponencialmente, criando um problema de balanço de pagamentos. A Venezuela importou US$ 55 bilhões no ano passado – em todo tipo de produtos, incluindo uma fatia expressiva de alimentos.

A escassez de divisas tem sido sentida pelos importadores com o aumento dos entraves burocráticos. A Comissão de Administração de Divisas (Cadivi) tem dificultado cada vez mais a liberação de dólares para a importação, dizem os empresários, agravando os problemas de abastecimento.

O economista Domingo Maza Zavala, ex-diretor do Banco Central, prevê um déficit de US$ 6 bilhões a US$ 7 bilhões no balanço de pagamentos este ano, e de US$ 12 bilhões no ano que vem. Ele estima crescimento do PIB de 3% este ano, ante 4,9% em 2008, 8,8% em 2007 e 10,3% tanto em 2006 quanto em 2005 – índices impulsionados pelo boom do petróleo.

 

José Guerra, ex-gerente de pesquisas econômicas do Banco Central, desenha um cenário bem mais sombrio, de estagflação – a combinação de inflação alta e recessão. Para ele, a economia vai encolher entre 1,5% e 2% este ano. A redução da atividade econômica deve aumentar o desemprego, hoje de 6%. Guerra adverte que esta taxa é sustentada pelos programas sociais do governo, chamados de “missões”, que empregam 800 mil pessoas – mais de 6% da população economicamente ativa. O governo terá dificuldade de manter esse padrão de gastos.

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