Deputado acusa Uribe de ceder aos EUA

‘Não é segredo interesse americano no conflito da Colômbia’, diz venezuelano

 

CARACAS

O presidente Álvaro Uribe decidiu interromper a mediação venezuelana para atender ao narcotráfico e aos Estados Unidos. Foi o que afirmou ontem o deputado governista Saúl Ortega, presidente da Comissão de Política Exterior da Assembléia Nacional venezuelana. “O presidente Uribe deve estar cedendo às pressões tanto nacionais quanto internacionais”, interpretou Ortega, em entrevista à TV estatal. 

“Para ninguém é segredo o interesse do governo dos Estados Unidos no conflito colombiano, através do qual mantém uma presença abusiva, com intervenção, com tropas americanas, com sofisticados armamentos, assim como um financiamento de mais de US$ 7 bilhões, via Plano Colômbia e Plano Patriota, enviados pelo Departamento de Estado”, contabilizou o deputado. Segundo ele, esse dinheiro tem sido usado pelo governo colombiano “de maneira discricionária”. 

“Também é conhecido que o narcotráfico financia as condições da guerra para poder cultivar com impunidade a coca na Colômbia”, continuou Ortega. “E sabemos que o narcotráfico paga a quem controla militarmente as zonas onde eles cultivam a coca. Muita gente vive da guerra na Colômbia.” Como exemplo do “apoio internacional jamais visto” à mediação de Chávez, o deputado citou uma moção do Parlamento do Mercosul, de respaldo à atuação do presidente venezuelano.

O Palácio Miraflores divulgou à tarde uma nota oficial, na qual se declarou “surpreso” com a decisão de Uribe. “O governo da Venezuela aceita essa decisão soberana do governo da Colômbia, mas manifesta sua frustração, já que dessa maneira se aborta um processo que se vinha conduzindo com pulso firme, em meio a grandes dificuldades, tendo-se conseguido em três meses importantes avanços que faziam pensar já na possibilidade de uma solução a esse drama essencialmente humano que afeta nossa irmã e querida Colômbia”, diz a nota.

O comunicado afirma que, “apesar da lamentável decisão do governo colombiano, o governo da Venezuela tem seus corações abertos para continuar prestando seus humildes serviços em favor da vida e da paz”. E agradece “infinitamente” o “incansável” trabalho da senadora colombiana Piedad Córdoba, “que merecia outro destino”. A senadora foi entrevistada pela Telesur, o braço sul-americano da TV estatal venezuelana, saindo de um hotel em Caracas rumo ao Palácio Miraflores, para uma reunião com Chávez sobre o tema. “Nunca me arrependerei de ter trabalhado com o presidente Chávez, e vou continuar trabalhando”, prometeu.

Ao longo do dia, a eficiente TV estatal venezuelana colocou no ar uma série de reportagens e entrevistas, tanto ao vivo quanto de arquivo, para demonstrar o “êxito” da mediação de Chávez, a esperança que havia despertado entre os familiares dos reféns e dos guerrilheiros presos, e a desilusão que a decisão de Uribe causara. 

 

“Estávamos muito esperançosos e iludidos”, declarou Marlen Orejuela, presidente da Asfamipaz, associação que reúne os parentes de militares e policiais seqüestrados pelas Farc. “Não esperávamos esse desassossego de ontem (quarta-feira) à noite. O presidente Uribe fechou um caminho que ele mesmo havia aberto.” Ela disse que a associação mandou uma carta ao presidente colombiano, com cópia para todas as embaixadas em Bogotá, pedindo a Uribe: “Por favor, reconsidere sua posição. Por um segundo, coloque-se no nosso lugar, e não nos dê as costas.”

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