Eleições na Venezuela têm abstenção de 75%

Aliança liderada por Chávez, praticamente sozinha na disputa, fica com 84% dos votos

 

CARACAS

O presidente Hugo Chávez fracassou em levar os venezuelanos às urnas ontem. Apenas 25% dos eleitores compareceram às eleições para a nova Assembléia Nacional, segundo projeção divulgada às 20h50 de ontem em Caracas (22h50 em Brasília). Embora o governo tenha obtido controle absoluto sobre o Parlamento unicameral, o alto índice de abstenção, de 75%, representa uma vitória para a oposição, que boicotou a eleição, alegando riscos de fraudes.

Dos 2,97 milhões de votos, 2,50 milhões (84%) foram para a aliança liderada pelo Movimento Quinta República, o partido de Chávez. A Venezuela tem 11,956 milhões de eleitores inscritos. Quatro dos cinco principais partidos da oposição se retiraram da disputa, na semana passada. A lei não estabelece um comparecimento mínimo, mas a votação ganhou um aspecto plebiscitário, de aprovação ou não ao governo Chávez. 

“Temos ouvido porta-vozes dizendo que essas eleições são normais”, disse Maria Corina Machado, da organização não-governamental Súmate. “Não concordamos. O normal, em eleições, é que o povo vote.” Para ela, “o povo, com sua conduta, exigiu a renúncia do CNE”. O ministro da Educação, Aristóbulo Isturiz, respondeu imediatamente, afirmando que quem nomeia o CNE é a Assembléia Nacional, que a oposição, por sua vez, não reconhecerá. “Por isso dizemos que essa estratégia da oposição foi ditada de fora”, concluiu ele. A ONG, que fez campanha pela abstenção, recebe recursos do Fundo Internacional para a Democracia (NED), dos EUA.

O dia transcorreu calmo, à exceção da informação, divulgada pelo governo, de duas explosões, em um oleoduto e em um gasoduto, no Estado de Zulia, noroeste do país, ocorridas na noite de sábado. Uma chuva fina começou a cair por volta das 9h em Caracas, e continuou por todo o dia, diminuindo o ânimo dos eleitores. Já em seis Estados do país, as chuvas foram fortes, atrasando o início da votação, previsto para as 6h. Cada seção eleitoral se manteve aberta por um total de dez horas, ou enquanto houvesse filas. 

O governo se empenhou em estimular a participação dos eleitores, colocando à sua disposição transporte gratuito. No bairro popular 23 de Enero, reduto de chavistas, 15 lotações circulavam gratuitamente, levando e trazendo eleitores, de acordo com Mauricio Urbina, do Coletivo La Libertad, grupo de mobilização popular sustentado pelo governo e controlado pelo MVR.

Os partidos tradicionais oposicionistas Ação Democrática e Copei, assim como os mais novos Primeiro Justiça e Projeto Venezuela, anunciaram sua saída da disputa na semana passada, alegando que as urnas eletrônicas importadas dos Estados Unidos não garantem o sigilo do voto. As máquinas, fabricadas pela companhia Smartmatic, armazenam a ordem dos votos, o que, segundo os oposicionistas, permitiria identificar as opções dos eleitores. 

Denunciando o risco de fraude, a oposição exigiu que todos os votos fossem contatos manualmente, já que as máquinas imprimem um comprovante. O CNE não aceitou, garantindo apenas uma auditoria em 45% das urnas – que consiste em comparar a contagem dos comprovantes impressos com a ata eletrônica. 

 

Ao votar no bairro 23 de Enero, Chávez festejou a “hora da morte” dos oposicionistas que promoveram o boicote. Segundo ele, a Venezuela tem “o processo eleitoral mais cristalino, flexível e seguro da América do Sul”, e a versão de que há uma crise política no país foi criada pelos “lacaios do imperialismo”, já que apenas 10,8% dos mais de 5 mil candidatos às 167 cadeiras da Assembléia Nacional renunciaram. O presidente, no entanto, disse esperar que seja possível “recompor a oposição”. O vice-presidente José Vicente Rangel foi mais longe, conclamando a negociações com os oposicionistas já a partir de hoje. 

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