Empresários desaprovam ampliação do bloco comercial

Atropelo às normas do grupo e acesso a outros mercados preocupam setor

 

No meio empresarial brasileiro, da indústria à agricultura, a entrada da Venezuela no Mercosul não é vista com bons olhos. Os motivos são vários: o atropelo às regras da união aduaneira; as dúvidas sobre seu apego à democracia; as portas que essa presença fecharia para os Estados Unidos e 

até para a Europa.

“Não imaginávamos que a Venezuela fosse entrar da forma abrupta e violenta como entrou, sem nenhuma negociação preliminar, sem um calendário de desgravação tarifária, acesso a mercado, regras de tarifa única”, enumera Roberto Giannetti da Fonseca, diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “Foi uma violência do ponto de vista da instituição. Foi enfiado de maneira inconseqüente.”

Rubens Barbosa, ex-embaixador em Londres e Washington e consultor em relações internacionais, observa que se criou para a Venezuela uma categoria inexistente no Tratado do Mercosul: a de “membro pleno em processo de adesão”. O país pode participar de todas as reuniões do bloco, 

mas não votar.

“Do ponto de vista negocial, a Venezuela é um ‘non-starter’, um passivo, não dá margem a sequer sentar na mesa com a União Européia e os Estados Unidos”, acrescenta Giannetti. Para completar, a Comissão de Administração de Divisas da Venezuela tem atrasado os pagamentos das importações, fazendo exigências “absurdas” de documentos, diz ele.

“A entrada da Venezuela foi uma decisão exclusivamente política”, recorda José Augusto de Castro, diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil. “Nenhuma entidade de classe foi consultada.” Para ele, “a Venezuela tem problemas políticos que se refletem em terceiros mercados, e sua entrada significa que se abdicou de qualquer negociação comercial com os EUA”. A vantagem da abertura do mercado venezuelano parece-lhe efêmera: está condicionada ao preço do petróleo.

“Vemos a entrada da Venezuela com preocupação”, afirma Carlos Sperotto, presidente da comissão sobre o Mercosul da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). “Diante das posições intempestivas do presidente venezuelano, é preciso cautela. Ele pode gerar perturbação nos colegiados de que vai participar.”

“Do ponto de vista econômico, a entrada da Venezuela no Mercosul é muito positiva”, pondera Barbosa. “É o terceiro país da região, com comércio crescente, fornecedor de petróleo e gás natural.” O problema não é com a Venezuela, mas com Chávez. “Até agora, o que ele procurou no Mercosul foi uma plataforma para si mesmo. Veio com agenda própria, gerada na Venezuela”, 

 

diz o embaixador, citando a influência de Chávez sobre a Bolívia, que prejudicou a posição da Petrobrás; a corrida armamentista e a criação do Banco do Sul.

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