Guiana cobra satisfação de governo chavista

Ação militar venezuelana na fronteira leva partidos e imprensa guianenses a pressionar Caracas

 

CARACAS

O governo da Guiana cobrou ontem uma satisfação da Venezuela sobre a ação militar realizada na semana passada num garimpo de ouro na fronteira entre os dois países. De acordo com o chanceler da Guiana, Rudolph Insanally, a aparente invasão do território guianês criou “uma situação muito tensa para o governo do presidente Bharrat Jagdeo”. 

“Os partidos políticos e os meios de comunicação estão muito contrariados com o que aconteceu”, disse Insanally, ouvido pelo jornal El Nacional, de Caracas. “Pelo bem das relações, esperamos uma explicação o quanto antes, porque nos estão pressionando para que protestemos. Essa questão nos pôs numa situação muito comprometedora.” 

O embaixador da Venezuela em Georgetown, Darío Morandy, convocado na quinta-feira a dar explicações sobre o incidente, disse que o governo em Caracas só poderia se pronunciar depois da volta do chanceler Nicolás Maduro, que acompanha o presidente Chávez numa visita ao Irã, França e Portugal. 

Morandy assegurou, no entanto, que a explosão de duas dragas pelo Exército ocorreu em território venezuelano, no Rio Wenamu, e seu propósito foi “desativar os focos ilegais de exploração de minerais, para proteger o meio ambiente”. Já o governo guianês insiste que as dragas estavam em seu território, no rio Cuyuní.

Morandy também respondeu a um artigo do senador José Sarney (PMDB-AP), publicado no domingo pelo jornal Folha de São Paulo, que falava de uma hipótese de conflito entre os dois países: “A Venezuela não está interessada em invadir ninguém. Essas versões as põem a circular os detratores do presidente Hugo Chávez, que querem fazê-lo parecer uma força imperial. Isso jamais acontecerá.”

 

Numa disputa que remonta ao fim do século 19, a Venezuela reivindica a porção da Guiana a oeste do Rio Essequibo, que representa dois terços do território da ex-colônia inglesa. Em março de 2006, a Assembléia Nacional aprovou o acréscimo de uma oitava estrela à bandeira venezuelana, representando “a província de Guayana”, atual Guiana. Chávez, cujas compras de material bélico têm chamado a atenção dos vizinhos, mantém uma amizade ambígua com a Guiana. Ao receber as chaves de Georgetown, em fevereiro de 2004, ele propôs “a verdadeira unidade entre Venezuela e Guiana, a unidade integral”, deixando no ar o que ele queria dizer com isso.

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