Há 50 anos, um protesto parecido

Marcha de estudantes iniciou movimento contra Pérez Jimenez

 

CARACAS

Há exatos 50 anos, estudantes universitários saíram às ruas de Caracas para protestar contra uma outra consulta popular. Convocado pelo general Marcos Pérez Jiménez, o plebiscito tinha por objetivo assegurar sua manutenção na presidência, que ele ocupava havia cinco anos. As coincidências não terminam aí. Pérez Jiménez assumiu a presidência, interinamente, num dia 2 de dezembro (de 1952), depois de ter participado de um golpe militar quatro anos antes. Nessa mesma data a reforma constitucional, que garante a Hugo Chávez a reeleição ilimitada, será submetida a referendo.

Admirador de Pérez Jiménez, Chávez, um ex-tenente-coronel que também liderou um golpe (fracassado), em 1992, convidou o ex-ditador para a sua posse no seu primeiro mandato presidencial, em 1999. Pérez Jiménez, que estava exilado na Espanha, declinou do convite. Mas alguns analistas reconhecem inspiração pérez-jimenista em muitos procedimentos adotados por Chávez -incluindo sua estratégia de se perpetuar no poder por meio de um diálogo direto com o povo, do qual o general era considerado um “pai”, assim como Getúlio Vargas, no Brasil.

Depois que os estudantes se lançaram às ruas, muitos com boinas azuis, como as que se viam ontem na manifestação antichavista, a ditadura de Pérez Jiménez durou pouco. Ele foi deposto no dia 23 de janeiro de 1958, por um grupo de civis e militares dissidentes, e fugiu para os Estados Unidos num avião particular batizado de “Vaca Sagrada”. Em 1963, o governo venezuelano obteve a extradição do general. Cinco anos depois, ele foi condenado a quatro anos de prisão, e solto por já haver cumprido mais do que isso na cadeia. Pérez Jiménez partiu para o auto-exílio na Espanha, onde morreu, em 2001.

Os venezuelanos consideram que o movimento estudantil nasceu no país na marcha contra Pérez Jiménez, e por isso nessa data se celebra o dia dos estudantes. “A responsabilidade dos estudantes de hoje é maior que a da geração de 58”, avalia hoje o analista político Héctor Pérez Marcano, um dos líderes estudantis daquele movimento. “Pelo menos Pérez Jiménez se assumia como ditador militar. Já Hugo Chávez, cujo projeto é totalitário e não tem nada de socialista, finge ser democrata.” 

 

Pérez Marcano está lançando um livro, intitulado A Invasão de Cuba da Venezuela, no qual argumenta que o regime chavista é uma “invasão consentida”, que permite a Fidel Castro realizar sua estratégia continental de exportar a revolução, fracassada nos anos 60. 

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