Mediação de Chávez irrita parentes de reféns venezuelanos

‘Nós nos sentimos humilhados vendo o presidente reunir-se com famílias de colombianos’, afirma filho de seqüestrada

 

CARACAS

Os guerrilheiros e narcotraficantes colombianos cruzaram a fronteira em meados dos anos 90. Mas começaram a atuar ostensivamente do lado venezuelano desde a chegada ao poder de Hugo Chávez, em 1999, e sua presença se intensificou depois da eleição, em 2002, do presidente colombiano, Álvaro Uribe, que foi paulatinamente empurrando-os para as montanhas nas fronteiras da Colômbia. De acordo com a Federação Nacional de Pecuaristas (Fedenaga), entre 1959 e 1999, houve 305 seqüestros na Venezuela; de 1999 até maio de 2006, 1.505 pessoas tinham sido seqüestradas.

Chávez se ocupou, nos últimos meses, da libertação de 45 reféns das Farc na Colômbia, quando mais de 80 estão no cativeiro na Venezuela. “Como venezuelanos, nós nos sentimos humilhados vendo o presidente se reunindo com famílias dos reféns colombianos”, diz Juan Pabón, que teve a mãe e o irmão seqüestrados em sua fazenda no dia 3 de dezembro de 2003. “Estamos há três meses pedindo uma audiência com o presidente Chávez, mas até agora não tivemos resposta.”

Representantes de 12 famílias com parentes seqüestrados de Táchira se reuniram, no dia 16 de outubro, com o ministro do Interior e Justiça, Pedro Carreño. “Pedimos o rastreamento de chamadas, a localização de veículos e a prisão de pessoas suspeitas de envolvimento que estão visíveis”, enumerou Pabón. “O ministro nos ofereceu apoio nas investigações e disse que, se não solucionasse esses casos, pediria demissão”, relata Pabón, de 37 anos, oficial de Justiça em San Cristóbal, capital de Táchira. “Até agora, não foi feito nada.”

Na reunião entre Chávez e Uribe durante a Cúpula Ibero-Americana, em Santiago, no mês passado, o presidente colombiano teria mostrado ao venezuelano fotos aéreas de um acampamento das Farc na Serra de Perijás, no Estado de Táchira, segundo a versão de um senador colombiano não identificado, publicada em jornais da Colômbia e da Venezuela. O presidente venezuelano negou que isso tenha ocorrido.

Fazendeiros e um ex-oficial do Exército que se mantém em contato com militares da ativa e policiais, no entanto, disseram ao Estado que existem não um, mas vários acampamentos das Farc, do ELN e da FBL. Com base em informações repassadas por militares e policiais, o ex-oficial estima que haja 300 homens do FBL, 300 das Farc e 200 do ELN, além de 150 paramilitares.

Do lado venezuelano, disseram vários fazendeiros, as Farc operam livremente pistas de pouso de fazendas abandonadas, destinadas a embarcar a cocaína vinda da Colômbia por terra, para seus destinos nos Estados Unidos e na Europa, geralmente com escalas na América Central e no México.

 

Na manhã de sexta-feira, o Estado expôs o teor desta reportagem à Assessoria de Imprensa do Ministério do Interior e Justiça e ao tenente-coronel Miguel Moraes, da Guarda Nacional, encarregado do combate a seqüestros. Ambos prometeram averiguar as denúncias e respondê-las, mas até o fechamento desta edição não o tinham feito. 

 

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