Presidente é criticado até em tradicional reduto de esquerda

Moradores do 23 de Enero reclamam da queda do poder aquisitivo e da delinquência

 

CARACAS

O Bairro 23 de Enero, onde Hugo Chávez vota, é um tradicional reduto da esquerda. Aqui nasceu o levante popular contra o ditador Marcos Pérez Jimenez, derrubado em 1958, no dia que dá nome ao bairro. No bairro estão concentrados os “coletivos” – grupos de militantes patrocinados pelo governo que realizam projetos sociais, mas também atuam como tropas de choque, ameaçando e coagindo estudantes, opositores, jornalistas e a Nunciatura Apostólica, crítica a Chávez.

A cem metros do colégio onde Chávez votou, está um bar pertencente ao Coletivo Alexis Vive, que exibe um cartaz em homenagem a Manuel Marulanda, ou Tirofijo, o líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) morto no ano passado. Nos muros ao longo das ruas que serpenteiam no bairro montanhoso, há pichações em favor dos grupos islâmicos Hamas (palestino) e Hezbollah (libanês).

A cada uma das 15 votações desde a primeira eleição de Chávez,em 1998, a maioria dos eleitores do 23 de Enero apoiou o presidente. Mas, numa mostra do desgaste de Chávez e de sua perda de apoio até mesmo em sua base popular, não foi difícil encontrar eleitores que votaram ontem pelo “não” na própria escola onde o presidente votou, cujos funcionários se vestiam de vermelho e até o palanque armado para a imprensa estava revestido da cor da “revolução”.

“Nosso poder aquisitivo caiu muito”, disse Yolanda Rodríguez, de 41 anos, gerente de um banco privado, que ganha o equivalente a R$ 2.700. Yolanda conta que teve de tirar sua filha de 15 anos da escola pública e mandá-la para um colégio de padres porque ela ficou um ano sem professor de biologia e de matemática. “Mas sabemos que Chávez continuará manipulando e monopolizando, e se perder vai tentar de novo”, disse ela. “Essa é uma luta para ver quem se cansa primeiro. O povo e a oposição estão cansados. Chávez é incansável.”

Johnny González, de 35 anos, que trabalha com serviços gerais numa empresa privada, elogia as “missões” de Chávez para a educação e a saúde, mas diz que a delinquência aumentou muito. “Viver no 23 de Enero é duro”, contou ele. “Chávez não fez nada em relação a isso.”

Já o feirante Oscar Castillo, de 33 anos, diz que sua vida “melhorou muito”, graças aos créditos a juro baixo dados pelos bancos públicos, que ele usou para investir no seu negócio. “Sou daqui do bairro, e tenho subido.”

 

Alexander Berríos, de 35 anos, que presta serviços de instalação de cabos para a empresa de telecomunicações CanTV, também conta que sua situação melhorou. Antes, quando a CanTV era privada, ele trabalhava numa empresa terceirizada e não tinha direitos trabalhistas. Com a estatização, passou a trabalhar numa cooperativa. Seu salário dobrou e ele passou a ter carteira assinada. 

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