Na reunião com líderes tribais, a voz das mulheres

Karzai faz questão que representantes femininas manifestem suas opiniões

CABUL – A tarde caía sobre o pátio do Qasr Shahi, ou Palácio do Rei, que até 1973 abrigou a monarquia afegã, derrubada num golpe de Estado. Sob seis enormes carvalhos, cerca de 250 chefes tribais e líderes políticos esperavam pacientemente, sentados em cadeiras de plástico. Por volta das 16h30, o presidente Hamid Karzai finalmente veio caminhando por entre os jardins do palácio, escoltado pelos guarda-costas da Dyncorp, a companhia texana de segurança contratada pelo Departamento de Estado americano para protegê-lo.

Um a um, cerca de dez líderes foram se levantando para falar ao microfone, alternando o pashto e o dari, os dois principais idiomas do Afeganistão. Basicamente, sua mensagem era de apoio ao presidente, o franco favorito entre 18 candidatos à eleição, no sábado. Depois que quatro homens já haviam falado, Karzai interveio: “Onde estão as mulheres desta reunião? Vocês não vão falar? Vocês têm direitos iguais aos dos homens.” Havia nove mulheres. Outros três homens ainda falaram, antes que chegasse a vez de duas delas se pronunciarem.

Quando deram 17 horas, muitos dos assistentes ficaram inquietos. É um dos cinco horários em que os muçulmanos devem ajoelhar-se no chão para rezar, voltados para Meca. Karzai sentiu a impaciência: “Quem quiser, pode ir rezar tranqüilo. Deus é mais importante que eu.” Algumas dezenas se retiraram, mas a maioria ficou e a reunião prosseguiu, com sua mescla impressionante de faces e estilos, dos barbados com túnicas e turbantes até os impecavelmente barbeados e penteados, trajando ternos ocidentais.

Depois de uma hora, a reunião chegou ao fim. Passando pelos jornalistas estrangeiros que o aguardavam para a entrevista, ele pediu licença, em inglês: “Vou rezar e já volto.” 

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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