ONU pede que governo volte atrás na censura

A missão da ONU no Afeganistão exortou ontem o governo afegão a voltar atrás na censura da cobertura dos ataques terroristas e do conflito armado durante a eleição de hoje para presidente e conselhos provinciais.

CABUL – Por meio de dois decretos na terça-feira, o governo determinou aos meios de comunicação que não noticiem atos de violência entre as 6 horas e as 20 horas de hoje (22h30 de ontem e 12h30 de hoje em Brasília), e que seus repórteres não cubram esses incidentes. O objetivo é evitar que os eleitores sintam medo de ir votar.

“As pessoas precisam de acesso à informação, não só no dia da votação, mas também depois”, disse à agência Reuters Aleem Siddique, porta-voz da missão da ONU em Cabul. “A credibilidade dessas eleições está diretamente ligada ao acesso à informação.” O porta-voz acrescentou que a Constituição afegã garante a liberdade de expressão e que “não está clara a base legal” dos decretos. “Estamos argumentando isso perante o governo afegão.”

A polícia afegã usou de violência para impedir repórteres de aproximar-se do local do atentado com carro-bomba na terça-feira e da invasão de uma agência bancária ontem em Cabul. Um repórter e um cinegrafista da TV Tolo, a maior emissora privada do país, chegaram a ser detidos ontem.

“Tomamos a decisão no interesse nacional do Afeganistão, de modo a aumentar o moral das pessoas e encorajá-las a sair para votar”, justificou

Siamak Herawi, porta-voz do presidente Hamid Karzai. “Se algo acontecer, isso vai evitar que eles (os jornalistas) exagerem, de modo que as pessoas não fiquem amedrontadas para votar.”

“Isso mostra a fraqueza do governo”, criticou Rahimullah Samander, presidente da Associação dos Jornalistas Independentes Afegãos. “Condenamos tais medidas para privar as pessoas de acesso às notícias.” Samander assegurou que os jornalistas afegãos e estrangeiros não vão seguir a ordem – o que inclui o Estado.

Depois de cinco anos sob o regime do Taleban (1996-2001), durante o qual só havia jornais do governo, e a televisão e imagens em geral estiveram banidas, os meios de comunicação têm florescido no Afeganistão. O país tem 300 jornais e 18 canais de televisão – a maioria privada e independente.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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