Autoridades acusam separatistas por ataque

O governo chinês admitiu ontem que o atentado que matou 16 policiais e feriu outros 16 na segunda-feira, em Kashgar, noroeste do país, foi executado por separatistas muçulmanos.

KASHGAR, China – Embora os dois autores tenham sido presos no ataque, as autoridades demoraram 32 horas para confirmar a sua motivação política, quando a imprensa chinesa já havia abandonado o assunto, depois de tratá-lo com discrição. Na véspera, a agência estatal Nova China se referia ao ataque como “suspeito de terrorismo”. Foi o maior atentado terrorista da história recente da China.

Em entrevista coletiva ontem à tarde, o secretário-geral do Partido Comunista de Kashgar, Shi Dagang, informou que foram encontrados com os dois autores do atentado textos defendendo a jihad, ou guerra santa. “A religião é mais importante para eles do que a própria vida ou a paz para suas mães, e por isso eles se lançam à jihad”, interpretou a maior autoridade política da cidade, reduto separatista da Região Autônoma Uigur de Xinjiang, habitada por maioria muçulmana.

Sem dar os nomes dos dois homens, nem a que grupo pertencem, Shi disse que um é verdureiro e outro taxista. Na véspera, as autoridades tinham informado apenas que ambos eram uigures e um tinha 28 anos e o outro, 33. Diversos grupos separatistas querem transformar Xinjiang – que ocupa um sexto do vasto território chinês e faz fronteira com oito países – no Turquistão do Leste. Esse é um dos temas políticos internos mais sensíveis da China, cuja maioria han, que representa cerca de 90% da população, convive com 56 minorias.

“Desde o ano passado, organizações que lutam pelo Turquistão do Leste têm tentado persistentemente lançar operações contra os Jogos Olímpico”, afirmou Shi, citando vários complôs e tentativas abortadas pela polícia. “Eles querem usar os métodos mais simples para transformar 2008 em um ano de luto.”

Os dois homens jogaram um caminhão de lixo contra um grupo de 70 policiais militares que praticavam corrida na rua, desceram do veículo e os atacaram com explosivos de fabricação caseira, segundo a polícia. Um dos homens teve um braço arrancado pela explosão. Nenhum civil foi atingido. De acordo com uma fonte ouvida pelo Estado, um ônibus teria sido alvo de um atentado a bomba em Pequim do fim de semana, mas o atentado foi acobertado.

As medidas de segurança, já bastante rigorosas, redobraram na Região de Xinjiang depois do atentado. Cada ônibus passou a contar com dois policiais a partir de ontem em Ürümqi, a capital de Xinjiang, 1.400 quilômetros a leste de Kashgar. Eles revistam as bolsas e maletas dos passageiros na entrada dos ônibus. As ruas da cidade já eram vigiadas por professores – em férias de verão – que recebem 100 iuanes (US$ 14,28) por dia. Desde o atentado contra dois ônibus, que matou duas pessoas, em Kunming, sudeste do país, no dia 21, os coletivos são vigiados por estudantes secundaristas, que ganham 60 iuanes (US$ 8,57) por dia.

Os policiais de Xinjiang não têm folga desde o dia 4. As mesquitas de Ürümqi foram fechadas por duas semanas, depois que cartazes separatistas foram colados em algumas delas. Em Pequim, Ürümqi e Kashgar, seguranças verificam bolsas e maletas na entrada de todos os edifícios. Na entrada do casario medieval de Koziqiyabixi, atração turística de Kashgar (que pertencia à Rota da Seda), dois policiais vão revistar os visitantes a partir de hoje.

Em Pequim, o aparato de segurança pe formado por 34 mil militares, 74 aviões, 48 helicópteros e 33 embarcações. As forças de segurança ergueram postos de controle nas estradas que dão acesso a Kashgar e a Ürümqi. Praticamente não há turistas nas duas cidades. Indiferentes a tudo isso, muitos moradores de Kashgar aproveitavam ontem tranqüilamente a noite de verão, passeando pelas praças e pelo belo bazar da cidade que, bem ao estilo chinês, fecha apenas às 22h.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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