Terror mata 16 e põe jogos em alerta

Ataque em Xinjiang faz Pequim elevar nível de segurança

KASHGAR, China – A quatro dias da abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, um atentado matou ontem 16 policiais e feriu outros 16, no pior ataque da história recente da China. O atentado ocorreu em Kashgar, o principal reduto separatista dos uigures, minoria muçulmana que se concentra no noroeste do país. A polícia diz ter detido os dois autores do atentado, ambos uigures, um de 28 e o outro de 33 anos de idade.

Por volta de 8h da manhã (21h de domingo em Brasília), os dois homens se aproximaram, num caminhão de lixo, de mais de 70 policiais que faziam sua corrida de rotina na rua, perto de um quartel da polícia de choque, que vigia as fronteiras. Segundo a agência estatal Nova China, o motorista jogou o caminhão contra os policiais, saltou para jogar uma granada neles e o veículo bateu num poste de eletricidade. Os homens ainda esfaquearam os policiais antes de serem detidos, segundo o relato da agência.

Catorze policiais morreram no local e os outros dois a caminho do hospital. Um dos homens teve o braço ferido pela granada. A polícia diz ter encontrado no caminhão dez explosivos e um revólver, todos de fabricação caseira, e quatro facas. O atentado ocorreu em frente ao Hotel Yiquan, mas nenhum civil foi ferido. No início da noite, quando o Estado chegou a Kashgar, a cidade de 200 mil habitantes estava praticamente deserta. Ninguém queria falar sobre o assunto com estranhos. Na recepção do Hotel Yiquan, disseram que não sabiam de nada. Um motorista de táxi disse que também não tinha ouvido falar nada.

A agência Nova China tratou os homens detidos como “suspeitos de terrorismo”. O governo chinês temia que os separatistas tentassem estragar sua festa. Cerca de 34 mil militares, apoiados por 74 aviões, 48 helicópteros e 33 embarcações foram mobilizados para garantir a segurança da Olimpíada. A preocupação com a segurança foi tão grande que esvaziou a festa em Pequim. A China dificultou tanto a concessão de vistos de entrada que os hotéis em Pequim estão com baixa ocupação. Os trabalhadores imigrantes da construção civil foram mandados de volta para casa – com o duplo propósito da segurança e também para tirar a imagem de pobreza que eles dão à cidade.

Para muitos chineses supersticiosos, a data do atentado pode ter uma mensagem macabra: o número 4, “si”, é considerado de azar, porque soa parecido com o verbo “morrer”; enquanto o número 8, “pa”, escolhido para a data da abertura dos Jogos (8/8/2008), é tido como de sorte, pois se assemelha ao verbo “fa”, que significa enriquecer.

O Departamento de Segurança Pública da Região Autônoma Uigur de Xinjiang, onde fica Kashgar, havia alertado que o Movimento Islâmico do Turquistão do Leste (MITL) planejava atentados na semana anterior à abertura dos Jogos. Os uigures são maioria na região, e o MITL quer transformá-la num país independente. Segundo os chineses, o grupo é apoiado pela Turquia.

Em março, a polícia disse ter frustrado uma tentativa de atentado a um avião em Ürümqi, capital da região, por três integrantes do MITL. Kurexi Maihesuti, vice-governador da região, afirmou na semana passada que a polícia havia desbaratado cinco células terroristas no primeiro semestre, detendo 82 suspeitos de preparar atentados durante a Olimpíada.

Um grupo chamado Partido Islâmico do Turquistão assumiu dois atentados no mês passado nas cidades de Xangai e Kunming, matando cinco pessoas. O governo negou que se tratasse de atentados terroristas.

Com 1,7 milhão de quilômetros quadrados, a Região de Xinjiang representa um sexto do território chinês e faz fronteira com oito países. Kashgar fica a 130 quilômetros das fronteiras com o Paquistão, Afeganistão e Quirguistão. Segundo especialistas, alguns terroristas uigures tiveram treinamento com a Al-Qaeda. Além dos uigures, vivem na região integrantes das etnias han, casaque, hui, mongol, quirguiz, tajique, xibe, ozbek, mandchu, daur e tártara, além de russos. A China é um mosaico de 56 etnias, mas os hans, que falam diversos dialetos e têm em comum a escrita chinesa, representam 90% da população.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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