Xangai: o frenético ritmo de crescimento

Zona econômica especial desde 1993, cidade ganha fisionomia de metrópole do Primeiro Mundo

XANGAI – Jiang Hao e Laixue Tao moravam na cidade de Ganzhou, 900 quilômetros ao sul de Xangai. Ele era produtor da TV local. Ela trabalhava na distribuidora de energia elétrica. Em 1995, o casal juntou suas economias e veio tentar a sorte em Xangai, atraído pelo programa de incentivos para abertura de empresas. Depois de um experimento capitalista desde o início dos anos 80 em Guangdon (Cantão), o governo decidiu implantar em 1993 uma zona econômica especial em Xangai, a metrópole econômica da China.

Hao e Laixue abriram uma pequena transportadora. Desde então, sua empresa tem crescido ao ritmo de 5% a 10% ao ano. Hoje a Shanghai BCT Logistics emprega 20 funcionários só em Xangai, e já mantém 10 escritórios espalhados pelo país. Em Xangai, o escritório central da empresa continua dividindo o espaço da sala-de-estar do apartamento do casal, num dos inúmeros condomínios de edifícios de tom pastel construídos nos últimos anos em Xangai, que lembram os de Miami.

“É fácil trabalhar aqui”, elogia Hao. “Os trâmites burocráticos são simples e rápidos.” Em Xangai as empresas põem em dia todas as suas obrigações num só lugar, chamado de Bian Min Fuwu – algo como Centro Conveniente para Pessoas e Serviços.

Símbolo da pujança econômica da China, a cidade é um canteiro de obras. Por toda parte se houve o rumor contínuo das serralherias e das soldas, a batida das estacas e dos martelos. Ao longo da Yan Na Gao Jiao Lu, uma via elevada de 17 quilômetros que corta a cidade de leste a oeste, há um número incontável de edifícios ultramodernos, erguidos nos últimos dez anos, assim como a própria avenida.

O boom imobiliário motivou a criação, há um mês, do primeiro jornal dedicado exclusivamente a classificados da cidade. O Yi Bao Tong (“Anunciou, Resolveu”, numa tradução livre) já começou com 400 funcionários, 48 páginas e uma tiragem semanal de 120 mil exemplares. “Nosso futuro é altamente promissor”, confia Shi Hao, de 30 anos, que deixou um cargo de marketing numa companhia para assumir o de gerente financeiro do jornal. Uma publicação do mesmo tipo já existe em Pequim, também pontilhada de obras, embora não na mesma proporção que em Xangai.

Com suas avenidas largas e bem pavimentadas, suas passarelas com escadas rolantes, seus ônibus coletivos com televisão e ar condicionado (por 2 yuans, ou US$ 0,25 a passagem), seus letreiros imensos e sua arquitetura arrojada, sobretudo Xangai, mas também Pequim, ganham rapidamente a fisionomia das grandes metrópoles do Primeiro Mundo.

A explosão imobiliária, assim como o consumo frenético, são ao mesmo tempo causa e conseqüência de um crescimento econômico ao ritmo médio de 8% nos últimos anos. Os negócios são impulsionados pelos investimentos externos diretos e por uma política macroeconômica amigável. A taxa de juros cobrada nos empréstimos para empresas e pessoas físicas é da ordem de 5% ao ano, enquanto o rendimento de aplicações financeiras não chega ao 1% anual.

De acordo com o economista Yan Cheng Le, da Universidade de Pequim, o governo consegue equilibrar suas contas com o lucro gerado pelas estatais – que ainda movimentam mais ou menos metade do Produto Interno Bruto de US$ 1,38 trilhão – e com a receita dos impostos, em constante ascensão graças ao crescimento econômico.

“Às vezes o governo ou as grandes empresas, com garantia do governo, pegam dinheiro emprestado com credores internacionais, mas, quando o investimento é bem conduzido e a economia está crescendo, a dívida se paga”, ensina Yan, ex-economista do Departamento de Planejamento do Desenvolvimento.

Para ajustar-se ao modelo capitalista, a China criou ou reescreveu 100 mil leis desde 1978, quando começaram as reformas, e promoveu cinco revisões constitucionais. Em março, o direito à propriedade privada, que já estava regulamentado em norma, foi incorporado à Constituição.

Além das condições propícias, da mão-de-obra barata e do mercado gigantesco, a China se esforça também para preparar melhor a população. A partir do ano que vem, a filha do casal Hao e Tao, Jiangxiyu, de dez anos, passará a aprender todas as matérias em inglês. Seus pais tiveram aulas de inglês apenas no ensino médio. E seus avós tiveram russo como língua estrangeira.

A medida será adotada em todas as escolas públicas de Xangai, que, como Pequim, é politicamente autônoma de suas respectivas províncias. Jiangxiyu, que está na terceira série, passa o dia todo na escola municipal, em dois períodos: entra às 8h e sai às 11h30 para almoçar em casa, volta às 13h30 e fica até as 16h20.

Emergindo do isolamento imposto pelo regime comunista, a China se abre rapidamente para o mundo. O ensino de línguas no país movimenta 1% do PIB. Como tudo na China se move por metas e campanhas, para isso também há uma: Pequim pretende ter 5 milhões de pessoas falando no mínimo 100 palavras em inglês até a Olimpíada de 2008, que ela sediará; Xangai quer ter 10 milhões até a Expo 2010.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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