Detlef Seebeidt relembra época do regime comunista em parte da Alemanha

O ex preso político conta sobre o antes e depois da queda do Muro de Berlim

O metalúrgico Detlef Seebeidt traz no corpo as marcas da divisão da Alemanha. Na época em que vivia sob o regime comunista da República Democrática Alemã (RDA), ele tatuou corajosamente em seu antebraço a águia que simbolizava a Alemanha Ocidental – e hoje o país unificado. Esse gesto, combinado com suas tentativas de fugir para Berlim Ocidental, levou-o três vezes para a prisão.

Todos os anos, no dia 9 de novembro, Seebeidt reúne-se na Porta de Brandenburgo com outros 20 amigos que conheceu na prisão para celebrar a queda do Muro. Por sinal, quando ele caiu, o metalúrgico estava preso desde 1987. Só saiu em 1990, depois de uma anistia. Na época, recebeu indenização de 21 mil marcos alemães. Há um ano, passou a receber também € 250 por mês, “até morrer”, como compensação pela perseguição política.

Seebeidt foi preso pela primeira vez em 1972, por causa do cabelo longo, que simbolizava rebeldia pró-capitalista. Os policiais o levaram para seu veículo e o cortaram. “Eu era um inimigo do Estado”, orgulha-se. Inicialmente, Seebeidt não pretendia ir para o lado ocidental. Ele só queria ser professor de educação física, mas as autoridades disseram-lhe que só poderia se entrasse para a Juventude Alemã Livre, braço do regime comunista. Seebeidt recusou-se: “Eu odiava suas camisas azul marinho.”

Quando tentou passar para o lado ocidental, em 1987, seu passaporte foi invalidado e ele foi mandado para um vilarejo chamado Demin, fora de Berlim. Seebeidt voltou para a cidade, porque queria ver seu filho de 15 meses. Foi encontrado pela polícia e preso.

Hoje com 50 anos, Seebeidt ainda trabalha para a mesma empresa, que foi comprada pela companhia ocidental Bleck & Söhne. Promovido a segundo gerente de produção, ele ganha € 21 por hora, e trabalha entre 8 e 12 horas por dia. “Ganho bem”, reconhece. “Mas já ganhava bem na época da RDA, 1.000 marcos alemães orientais por mês.”

Seebeidt é um vencedor da reunificação, mas mesmo assim acha que ela foi abrupta demais: “Os mais velhos deveriam ter tido tempo de adaptar-se ao sistema.”

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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