Líderes demoraram em reconhecer união

Para alemães, reunificação só seria possível após integração europeia

 BERLIM, Alemanha – Desde os anos 50, havia um dogma na Alemanha Ocidental, segundo o qual a reunificação só poderia ocorrer após a unificação política da Europa. Essa convicção sobreviveu até mesmo à queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989. O chanceler Helmut Kohl demorou mais de um mês para perceber que aquele episódio conduziria à reunificação alemã.

“Fomos educados com a convicção de que a reunificação da Alemanha dividiria a Europa”, recorda o jornalista Gunter Hofmann, de 67 anos, que publicou um livro sobre o tema. “Todos diziam que a Europa não sobreviveria a uma Alemanha rica e poderosa.” O tabu era nutrido pela culpa dos alemães de terem causado duas guerras no século 20. Só uma Europa forte e unida poderia impedir a Alemanha de repetir seus erros.

O atual embaixador do Brasil na Alemanha, Everton Vieira Vargas, testemunha o quanto a unificação parecia um sonho distante. Na época chefe do Setor Político da embaixada em Bonn, Vargas recorda uma reunião que teve em 1986 com Konrad Seitz, do Ministério das Relações Exteriores. Nela, o diplomata alemão deixou claro que a reunificação não estava no horizonte de seu governo. No máximo, no futuro, ele divisava uma união aduaneira. Três anos depois o Muro cairia e, um ano mais tarde, as Alemanhas se reunificariam.

Na manhã seguinte à queda do Muro, um grupo de dissidentes da então República Democrática Alemã (RDA) reuniu-se para discutir a luta pela democratização do país. O Plano de 10 Pontos que Kohl apresentou ao Parlamento em 28 de novembro tinha como premissa a manutenção da RDA: seu primeiro passo era a “cooperação econômica, científico-tecnológica e cultural” da Alemanha

Ocidental com a Oriental. O plano defendia eleições livres na RDA e seu acesso ao Mercado Comum Europeu.

Só em 17 de dezembro Kohl compreendeu que a Alemanha se reunificaria independentemente da integração europeia. Foi em um discurso diante de centenas de milhares de alemães orientais em Dresden, que aclamaram o chanceler como seu líder: “Helmut! Helmut!”

Se os alemães foram pegos de surpresa, o restante do mundo foi mais ainda.Mesmo o então dirigente soviético, Mikhail Gorbachev, principal catalisador político do fim da Alemanha Oriental ao retirar seu apoio à RDA, disse três meses antes da queda que a questão ficaria para o século 21.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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