América Latina está entre as prioridades de Zapatero

Primeiro-ministro espanhol reeleito domingo diz que acordos de cooperação econômica beneficiarão a região

MADRI – O primeiro-ministro reeleito da Espanha, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero, disse ontem que uma de suas prioridades na política externa será promover a estabilidade política e a cooperação econômica com os países da América Latina, por meio da União Européia (UE). Citando a reunião de cúpula entre os governos da UE e da América Latina, marcada para 16 de maio em Lima (Peru), Zapatero garantiu que “todos os acordos pendentes de natureza econômica beneficiarão muito a América Latina”.

Segundo ele, essa aproximação dará “maior relevância à UE no concerto internacional”, um dos objetivos de seu governo. “Nessa legislatura, devemos apostar num relançamento do compromisso europeu e da relevância da Europa no mundo”, sublinhou o líder socialista, em sua primeira entrevista coletiva, no seu comitê de campanha, depois da vitória nas eleições gerais de domingo.

Zapatero festejou o fato de o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) ter tido o maior número de votos de sua história, e o terceiro em porcentagem. O PSOE venceu com 11.064.524 votos, ou 43,64%, seguido pelo Partido Popular (PP), de direita, que teve 10.169.973, ou 40,11% – também a maior votação de sua história. Tanto o PSOE quanto o PP ganharam mais cinco cadeiras no Congresso, elegendo 169 e 153 deputados, respectivamente.

Num Congresso de 350 cadeiras, Zapatero precisará novamente de apoio de outros grupos para governar. O primeiro-ministro não quis antecipar se continuará governando por meio de acordos pontuais com os partidos menores, como fez nos últimos quatro anos, ou se buscará garantir a maioria absoluta formando uma coalizão mais estável. “Precisamos primeiro falar com cada um deles”, disse Zapatero.

O governo socialista deve contar com o apoio da Convergência e União (CiU), da Catalunha, cuja bancada aumentou de 10 para 11 deputados. Em contrapartida, um dos partidos que acudiam o governo nas votações, a Esquerda Republicana da Catalunha (Esquerra), já não será mais de tanta valia: sua bancada encolheu de 8 para 3 deputados.

O Partido Nacional Basco (PNV), que também apóia o governo, caiu de 7 para 6 cadeiras. O PSOE – ou sua versão local, o PSE – teve mais votos no País Basco do que o seu aliado PNV, elegendo 9 deputados. A eleição foi realizada sob o impacto do assassinato do ex-vereador socialista Isaías Carrasco, na sexta-feira, pelo grupo separatista Pátria Basca e Liberdade (ETA), na cidade basca de Mondragón.

Num sinal de que a sua segunda derrota eleitoral consecutiva poderá lhe custar a liderança do PP, Rajoy não falou ontem com os jornalistas. No seu lugar, foi o secretário-geral do partido, Ángel Acebes, quem concedeu uma coletiva. Acebes garantiu que o PP estava “orgulhoso” da liderança de Rajoy, mas não quis responder se ele continuaria no cargo. Ele explicou que a direção do PP se reuniria hoje para discutir o futuro, e só depois Rajoy falaria.

Os resultados eleitorais de ontem já derrubaram um outro líder – Gaspar Llamazares, da Esquerda Unida. A coalizão, que se situa à esquerda do PSOE, viu seu apoio encolher de 1.284.081 votos (4,96%) em 2004, para 963.040 (3,80%). Mas, pelo sistema proporcional, o estrago foi ainda maior em número de cadeiras: de 8, sua bancada caiu para 3. Os resultados de domingo reforçam duas tendências na Espanha: o bipartidarismo e a decadência de alguns partidos regionalistas e separatistas.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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