Jornada semanal de trabalho domina discussão

Sarkozy quer ampliá-la para 39 horas; Ségolène diz que haveria desemprego

PARIS – O tema que ocupou mais tempo no debate foi a jornada de trabalho de 35 horas semanais e sua relação com o desemprego. O candidato direitista Nicolas Sarkozy propõe estender a jornada para 39 horas para os trabalhadores que queiram, com um aumento de 25% em seus salários. Na sua visão, a medida aumentaria o poder de compra, geraria crescimento econômico e diminuiria o desemprego (na faixa de 8%).

Para Ségolène Royal, o efeito seria o oposto: os empregadores aproveitariam a jornada extra para não contratar novos trabalhadores. “Ela está presa na lógica socialista”, zombou Sarkozy. “Não há nenhum país no mundo, madame, socialista ou não, que siga a lógica da partilha do trabalho. As 35 horas não criaram empregos e são responsáveis por achatamento de salários.” A jornada foi criada no governo socialista de Lionel Jospin (1997-2002). Sarkozy cobrou de Ségolène uma posição clara sobre o tema. “A resposta muito precisa é que nesse tema, como noutros, haverá negociações entre os parceiros sociais, setor por setor”, esquivou-se ela.

Já Ségolène responsabilizou Sarkozy, ministro do Interior durante quatro anos, por um aparente aumento da violência, simbolizado pelos distúrbios de outubro e novembro de 2005 nos subúrbios de Paris. Ele disse que no governo Jospin a criminalidade aumentou 18%, enquanto no atual diminuiu 10%.

O debate enveredou então por um tema familiar ao Brasil. Sarkozy disse que vai propor a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, e o aumento das penas em caso de reincidência. Ségolène não ficou atrás. Disse que mudaria a lei para só permitir que menores estupradores sejam soltos depois de equipes de especialistas avaliarem que não há risco de reincidência. “Se há uma resposta ao primeiro ato de delinqüência, não há reincidência”, assegurou Ségolène.

Com relação a outro tema familiar, a reforma da Previdência, Sarkozy defendeu a criação de contas de capitalização privadas: “Acredito que o cidadão é livre para dispor do dinheiro que ganhou.” Já Ségolène anunciou que aumentaria “imediatamente” as aposentadorias. “Com que dinheiro?”, quis saber o adversário. “De um imposto sobre rendimentos na Bolsa de Valores”, respondeu ela. “De quanto por cento?”, insistiu Sarkozy. “Os atores sociais discutirão”, repetiu Ségolène.

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