Le Pen pede abstenção em massa

Derrotado no primeiro turno, líder ultradireitista francês nega apoio tanto a Sarkozy quanto a Ségolène

PARIS – O ultradireitista Jean Marie Le Pen pôs fim ontem ao suspense. Durante manifestação dos partidários da Frente Nacional pelo Dia do Trabalho, em frente à Ópera de Paris, Le Pen negou apoio tanto ao direitista Nicolas Sarkozy quanto à socialista Ségolène Royal, instruindo seus seguidores a se absterem no segundo turno da eleição presidencial, no domingo.

“Convido os eleitores que confiaram em mim a não depositar seu voto por madame Royal nem por monsieur Sarkozy”, anunciou Le Pen, aos cerca de 5 mil simpatizantes. “Convido-os expressamente a uma abstenção maciça, a se guardarem para as eleições legislativas de junho”, completou o polêmico líder ultranacionalista, que obteve 3,8 milhões de votos, ou 10,44%, no primeiro turno, dia 22, ficando em quarto lugar. A Assembléia Nacional tem eleições em dois turnos, nos dias 10 e 17 do mês que vem.

Numa disputa apertada, em que 4 a 6 pontos porcentuais separam Sarkozy de Ségolène, segundo diferentes pesquisas, havia uma expectativa quanto a uma adesão de Le Pen. Apesar de estar muito mais próximo ideologicamente de Sarkozy, o apoio ao candidato direitista não era garantido, em razão de mágoas guardadas da campanha – que, afinal, prevaleceram, mas não a ponto de Le Pen apoiar a socialista.

“Seria ilusório e perigoso votar pela candidata socialista para nos vingarmos de Sarkozy por nos ter roubado nosso programa, mas também seria loucura dar nosso voto a um candidato que nos segue considerando extremistas”, raciocinou Le Pen, que na eleição presidencial de 2002 surpreendeu ao passar para o segundo turno, deixando de fora o candidato socialista Lionel Jospin. Mas acabou massacrado no segundo pelo presidente Jacques Chirac, que obteve 82% dos votos.

Outra manifestação de Primeiro de Maio, convocada pela Confederação Geral do Trabalho, converteu-se, em grande medida, num protesto anti-Sarkozy, com cerca de 25 mil participantes. Os sindicalistas criticam propostas do direitista que, segundo eles, ferem os direitos dos trabalhadores.

O ex-ministro do Interior voltou a dizer ontem que, se eleito, vai obrigar os trabalhadores dos ônibus e do metrô a manterem o serviço, durante as greves, por pelo menos três horas por dia, nos horários de pico. Sarkozy também tem dito que, em seu governo, a cada dois funcionários públicos que se aposentarem, apenas um será contratado.

Ségolène também fez a sua manifestação de Primeiro de Maio (ver ao lado). Enquanto isso, Sarkozy viajava pelo país. Em visita a um centro de resgate marítimo, na Bretanha, o candidato disse: “Vim honrar os trabalhadores do mar, render homenagem à França que trabalha.” Depois, num centro de tratamento do mal de Alzheimer, em Bourg-Blanc, noroeste do país, ele prometeu aumentar de 200 milhões de euros para 1,5 bilhão a verba anual para o combate da doença, que atinge 890 mil pessoas na França. O montante equivale ao destinado aos pacientes de câncer.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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