Geórgia assina acordo que autoriza patrulhas russas em seu território

Com pacto, governo georgiano praticamente renuncia ao controle das províncias da Ossétia do Sul e da Abkházia

TBILISI – O presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, aceitou ontem na prática o fracasso de sua ofensiva para retormar a Ossétia do Sul. Depois de se reunir por cinco horas com a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, ele aceitou firmar um cessar-fogo que prevê a manutenção das tropas russas nas duas províncias separatistas – a Ossétia do Sul e a Abkházia. O acordo permite ainda os russos realizem patrulhas até 10 quilômetros fora de suas fronteiras, enquanto observadores europeus são enviados para monitorar a linha de armistício.

O único ganho do acordo, que ainda precisa ser assinado pelo presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, é o recuo das tropas russas mobilizadas a mais de 10 km das províncias. Num sinal da dificuldade de encontrar um tom comum para falar do acordo, Saakashvili e Rice só apareceram diante dos jornalistas para falar dele três horas depois de terminada a reunião.

A secretária de Estado explicou que o status final das duas províncias – que proclamaram independência no início dos anos 90 – será discutido depois. O objetivo agora, disse ela, é tirar as tropas russas do território georgiano fora das províncias (que, tecnicamente, também pertencem à Geórgia).

Rice exortou a Rússia a retirar suas tropas “de forma ordenada e imediata”, em cumprimento ao acordo mediado na terça-feira pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy. “A Geórgia foi atacada”, disse ela. “As forças russas têm de deixar a Geórgia prontamente.”

Para a secretária de Estado, chegou a hora de discutir as conseqüências do que a Rússia fez na Geórgia. “Isto coloca em questão que papel a Rússia realmente desempenha na política internacional.”

Saakashvili, que esperava ter tido mais apoio do Ocidente no seu embate com a Rússia, não escondeu sua contrariedade com os termos do acordo. Ele associou sua derrota à recusa dos integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ao pedido da Geórgia de entrar na aliança. “Nós dissemos ao mundo que uma invasão estava em curso”, disse o presidente, num tom emotivo. “Gritamos para o mundo: parem isso.” Ele garantiu que a Geórgia “nunca se renderá”.

“Infelizmente, estamos olhando o mal diretamente nos olhos”, continuou o presidente, referindo-se à Rússia. “Hoje o mal é muito forte, muito malicioso e muito perigoso para todos – não só para nós.” Saakashvili acusa a Rússia de “genocídio e de “limpeza étnica”.

Depois de visitar um hospital, Rice disse esperar que a ajuda humanitária enviada à Geórgia comece a ser distribuída assim que “a situação de segurança esteja estabilizada”. Antes de embarcar de volta para os Estados Unidos, ela disse ainda que, uma vez terminadas as hostilidades, começará a reconstrução da Geórgia.

Depois da intensificação de escaramuças entre milicianos ossétios e tropas georgianas que participavam de uma “força de paz” junto com os ossétios e os russos, a Geórgia lançou uma ofensiva no dia 8 para recuperar a Ossétia do Sul. A Rússia mandou tanques e soldados para rechaçar as forças georgianas, e acabou assumindo posições muito além das fronteiras das províncias separatistas. Cerca de 1.600 civis morreram na Ossétia do Sul, segundo a Rússia.

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