Rússia amplia ofensiva na Geórgia

Moscou rejeita cessar-fogo, bombardeia aeroportos no subúrbio de Tbilisi e ataca cidade georgiana de Gori

YEREVAN, Armênia – Após três dias de enfrentamento, a Geórgia anunciou ontem a retirada de suas tropas da Ossétia do Sul e propôs um cessar-fogo. Mas os confrontos continuaram em áreas de fronteira entre a Geórgia e a província separatista, assim como no Mar Negro. Cerca de 10 mil soldados russos, apoiados por tanques, aviões e navios, deslocaram-se para a Ossétia do Sul no sábado depois que forças da Geórgia avançaram na sexta sobre áreas controladas pelos separatistas, apoiados pela Rússia.

Num dos incidentes mais graves, o Ministério da Defesa da Rússia informou que embarcações georgianas dispararam duas vezes contra navios russos, que reagiram e afundaram uma delas. A Rússia garantiu que a missão dos navios enviados ao Mar Negro não é bloquear o escoamento de petróleo da Geórgia, como se especulou, mas evitar o suprimento de armas para o país.

O Ministério do Interior da Geórgia informou que uma coluna de tanques russos saiu da Ossétia do Sul para tentar entrar na cidade georgiana de Gori, mas foi repelida pelas forças georgianas. Distante 45 minutos de carro da capital da província, Tskinvali, Gori é a principal rota de ligação entre o leste e o oeste do país. Segundo o porta-voz do Ministério do Interior, Shota Utiashvili, a cidade sofreu ontem fortes ataques aéreos.

Aviões russos voltaram a bombardear a base aérea de Tbilisi, capital da Geórgia, e a fábrica de aviões TbilAviaMsheni (TAM), que fica nas imediações. Uma bomba caiu perto do aeroporto civil de Tbilisi, poucas horas antes de o ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, pousar no local, no fim da noite, para se reunir com o presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili. Kouchner, que seguirá para Moscou, tenta mediar um acordo entre as partes.

De acordo com os militares russos, 2 mil pessoas morreram na Ossétia do Sul nos confrontos desde sexta-feira e outros milhares se refugiaram nas vizinhas Rússia, Armênia, Turquia, configurando, segundo Moscou, uma “catástrofe humanitária”. A Itália retirou 140 de seus cidadãos de Tbilisi e os transportou para Yerevan, capital da Armênia.

O Ministério de Relações Exteriores da Geórgia entregou ao enviado extraordinário da Rússia em Tbilisi uma nota diplomática informando sobre a retirada de suas tropas da “zona de conflito”. Não ficou claro, porém, se os georgianos se referiam apenas às áreas ocupadas desde sexta-feira ou se a toda Ossétia do Sul, onde já mantinham posições antes da escalada do conflito.

O presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, exigiu que a Geórgia se retire incondicionalmente da Ossétia do Sul e assine um compromisso formal de não mais atacar a província. A Ossétia do Sul declarou sua independência em 1992, depois da dissolução da União Soviética, mas os georgianos não aceitaram.

Seguiu-se um breve conflito armado que terminou com a retirada das forças georgianas da província, que se tornou independente na prática, apesar de não ser reconhecida pela comunidade internacional. Os ossétios do sul querem se unir à Ossétia do Norte, que fica na Rússia.

A tensão se elevou depois da eleição do presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, em 2004, com a promessa de recuperar a Ossétia do Sul e a Abkházia, outra província autoproclamada independente com o apoio da Rússia. Saakashvili se aproximou dos EUA e defendeu o ingresso da Otan, provocando vigorosa reação contrária de Moscou. Os russos distribuíram passaportes para dois terços da população da Ossétia do Sul (que tem 70 mil habitantes), e justificam a intervenção na província como forma de proteger seus cidadãos.

Situada no Cáucaso, a Geórgia tem posição estratégica no escoamento do gás da Ásia Central para a Europa, que se ressente da excessiva dependência do gás russo. O gasoduto de Nabucco, planejado por países europeus, atravessará a ex-república soviética.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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