Após eleição, Berlusconi recebe Putin na Sardenha

Velhos amigos, os dois discutem possíveis cooperações

ROMA – O presidente da Rússia, Vladimir Putin, desembarcou ontem na Sardenha para uma visita de 24 horas ao seu amigo Silvio Berlusconi, eleito primeiro-ministro na segunda-feira. Na sua primeira reunião com um governante estrangeiro depois de eleito, Berlusconi trataria da construção do gasoduto South Stream (que atravessará a Europa Central), da oferta de um campo de petróleo na Líbia – de onde veio Putin -, da possível compra de parte da Alitalia pela Aeroflot e das difíceis relações entre a Rússia e o Ocidente.

“Falaremos de tudo, visto que estaremos um dia inteiro juntos”, disse Berlusconi (citado pela agência italiana Ansa), antes de receber Putin no aeroporto de Olbia e de levá-lo para a casa que mantém na Costa Smeralda, onde o presidente russo já se hospedara em 2003, durante o governo anterior do bilionário italiano. “Devemos pensar no que isso significa para a Itália”, ressaltou Berlusconi. “Basta lembrar que da Rússia vem 30% do gás e do petróleo.”

“Temos muitíssimas possibilidades de cooperação com a ENI (estatal do petróleo) e a Enel (da eletricidade), e outras empresas nossas”, continuou Berlusconi. De acordo com o executivo-chefe da ENI, Paolo Scaroni, há negociações de troca de ativos entre a estatal italiana e a gigante do gás russo Gazprom (informou a agência italiana AGI). A ENI ofereceria a sua jazida de petróleo de Elefante, na Líbia, e obteria participação na Artic Gas, que faz parte do “espólio” da ex-companhia privada de energia Yukos, que pertencia a Mikhail Khodorkovsky, desafeto político de Putin que acabou condenado por “evasão fiscal”. O negócio precisaria do aval do presidente da Líbia, Muamar Kadafi, com quem Putin se reuniu na quarta-feira.

No ano passado, a companhia russa Aeroflot manifestou interesse em comprar a estatal Alitalia, em estado pré-falimentar. Depois se consolidou a oferta de € 139 milhões do grupo Air France-KLM, com a aprovação do governo do primeiro-ministro Romano Prodi, de centro-esquerda. Durante a campanha, Berlusconi se opôs à venda, classificando de “absurdo” que a Itália deixasse de ter uma grande companhia aérea. Nos últimos dias, no entanto, Berlusconi passou a admitir a possibilidade de a Air France entrar no negócio juntamente com parceiros da Itália, em condição de paridade, para que a companhia continuasse sob gestão italiana. Ele disse que tratará do tema com o presidente francês, François Sarkozy, que também deve vir visitá-lo.

Os repórteres perguntaram se Berlusconi e Putin falariam sobre a Alitalia. “Estão me perguntando da Aeroflot?”, respondeu Berlusconi. “Digo-lhes que francamente todas as hipóteses estão de pé, contanto que continue a companhia de bandeira italiana e que as decisões sejam tomadas por italianos.” Berlusconi e Putin darão entrevista coletiva hoje às 10h (5h em Brasília).

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