Rússia aprova posição do Brasil frente à Síria

Dois anos e 80 mil mortos depois, a Rússia continua na mesma posição: vetará qualquer resolução no Conselho de Segurança da ONU autorizando uma intervenção na Síria. Além disso, tem fornecido armas ao regime de Bashar Assad. Para o embaixador russo em Brasília, Sergey Akopov, a posição do Brasil sobre a Síria é idêntica à da Rússia. O Itamaraty garante que não é bem assim.

 “As posições da Rússia e do Brasil são absolutamente coincidentes em relação à Síria”, disse o embaixador, durante debate, na segunda-feira, na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. Akopov ressaltou que “esse tema foi amplamente discutido” nas reuniões da presidente Dilma Rousseff com seu colega russo, Vladimir Putin, em dezembro, em Moscou, e com o primeiro-ministro Dimitri Medvedev em fevereiro, em Brasília. “São os sírios que têm de resolver o problema na mesa de negociações, com ou sem Assad”, postulou o embaixador.

“A Rússia aceitou o acordado em Genebra, e isso é um ponto que nos aproxima”, reconheceu ontem ao Estado o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Tovar da Silva Nunes, referindo-se ao acordo firmado em junho, pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, mais a Liga Árabe e a Turquia, que previa o fim imediato das hostilidades de ambos os lados e o estabelecimento de um governo de transição, com a participação do regime e da oposição. Os dois países partilham a visão de que “não há solução militar para esse conflito”, e que a solução deve ser encontrada pelos sírios, sem intervenção externa, continuou o porta-voz.

“No momento, colocar armas à disposição do governo e dos insurgentes gera uma situação insustentável, como a que vimos na Líbia”, ressalvou no entanto Tovar, em resposta à pergunta sobre a posição do Brasil em relação à venda de armas russas para a Síria. A Rússia é o principal fornecedor de armas para o regime de Assad. Mesmo durante o conflito, os russos despacharam mísseis terra-ar e radares para os sírios. A última base naval russa no Oriente Médio, que garante a autonomia de sua Marinha no patrulhamento da região, está no porto sírio de Tartus.

Tovar lembrou, também, que o Brasil votou a favor de uma resolução no Comitê de Direitos Humanos da ONU, em abril de 2011, e duas na Assembeia Geral, em novembro de 2011 e fevereiro de 2012, condenando a violência do regime (e dos insurgentes) contra civis. A Rússia votou contra as três. O Brasil se absteve na votação da resolução do Conselho de Segurança– vetada por Rússia e China – que condenava o regime sírio, em outubro de 2011.

“Foi um erro não ter vetado a intervenção na Líbia, e não vamos cometê-lo de novo”, assegura Akopov.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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