Concessões são recebidas com ceticismo por manifestantes

Ninguém ouvido pelo ‘Estado’ se declarou disposto a abandonar a Praça da Independência

KIEV – As concessões do presidente Viktor Yanukovitch foram recebidas com ceticismo pelos manifestantes da Praça da Indendência, no coração de Kiev, que continuou ocupada por milhares de pessoas. Ninguém ouvido pelo Estado se delcarou disposto a abandonar a praça, conquistada com tanto sacrifício.

“Quero ver primeiro se as eleições serão justas”, disse Oleh Kontenko, de 43 anos, que tirou férias da empresa privada em que trabalha para participar dos protestos. “E o governo de transição tem de ser totalmente composto pela oposição.”

Makola, de 34 anos, que feriu a mão em uma barricada e era atendido por médicas voluntárias na praça, foi mais longe: “O presidente e os outros membros do governo têm de renunciar e ser presos pelas mortes que ocorreram ontem (quinta-feira)”. Makola, que participa há um mês das manifestações, disse que trabalha na construção civil em outros países e  gostaria de ter emprego com salário digno na Ucrânia.

Oksana tem 35 anos, e trabalha como contadora em uma empresa de aviação. Ela acha que a antecipação das eleições só vale a pena se trouxer uma “mudança completa no regime”. Oksana não tem certeza de que os líderes da oposição sejam uma boa opção. Mas diz que votará no ex-boxeador Vitali Klitsckho, um dos líderes da oposição, em quem votou para deputado em 2010.

Um médico voluntário de 30 anos que se identificou apenas como Kuk declarou que apoia a antecipação das eleições, mas não até o fim do ano, e sim para já. “Não confio nos líderes da oposição”, disse ele. “Não sei quem poderia substituir o atual governo.”

Anton, de 45 anos, e Oleh, de 50, lutaram na guerra do Afeganistão (1979-89), nas tropas da antiga União Soviética, à qual a Ucrânia pertencia. Hoje eles comandam a guarda popular que enfrenta a polícia na Praça da Independência. Eles também não confiam em partidos políticos, e reivindicam que as organizações não-governamentais tenham um papel mais importante na política. “Pessoas que nunca estiveram no poder precisam tentar”, disseram eles.

Anton e Oleh dizem que as mudanças na Constituição, devolvendo poderes do presidente para o Parlamento, não são suficientes, e que a Ucrânia precisa de uma Constituição completamente nova.

“Estamos prontos para deixar a praça depois das eleições, não antes”, afirmou Nasar, estudante de 22 anos, que integra a guarda popular. “Estaremos aqui prontos para defender a praça. Não confiamos nesse governo e as pessoas não devem relaxar.”

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*