Povo continua na praça por justiça e governo confiável

Intenções de voto na eleição presidencial de maio se dividem

Sábado foi um desses dias longos, em que a História parece acelerar. O presidente Viktor Yanukovich deixou Kiev, foi destituído pelo Parlamento, que marcou eleições para 25 de maio, e a líder Yulia Tymoshenko deixou a prisão onde estava desde 2011, sob acusação de abuso de poder e corrupção. Mesmo assim, a Praça da Independência amanheceu ontem como se nada tivesse acontecido. Milhares de pessoas continuam ocupando o coração de Kiev.

“O povo tem que continuar aqui até a vingança, até que sejam punidos os responsáveis pelas mortes”, explicou Andriy Marchenko, de 47 anos, pesquisador do Instituto de Química Inorgânica. Ele gosta de Yulia, e diz que tudo o que ela disse no discurso da noite de sábado está correto. Mas ainda é cedo para pensar em quem vai votar na eleição de 25 de maio.

O químico Andriy Marchenko | Lourival Sant’Anna /Estadão

Olena Malinovski, de 29 anos, gerente em uma empresa de equipamentos, opinou: “O povo deve continuar na praça até elegermos um governo em que possamos confiar”. Olena vai votar na ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko: “Não vejo alternativa”.

O engenheiro de softwares Roman Trukhin, de 34 anos, diz que foi à praça porque tem um casal de filhos e quer uma Ucrânia melhor para eles. Ele não gosta de Yulia: “Ela é parte do velho regime, e está desacreditada”. Roman diz que o povo deve continuar na praça da Independência até que haja mudanças profundas no governo. “Os ministros e funcionários públicos indicados pelos políticos não são qualificados, e precisam ser substituídos por gestores e técnicos.”

Prasha Shujenko, um estudante de teologia de 20 anos, diz que o movimento precisa continuar até que Yanukovich e todos os responsáveis pelas mortes sejam presos. Ele pretende votar em Yulia.

Larissa Massenko, professora de ucrianiano na Academia de Kiev, e Miroslava Kinkolska, do Centro de Pesquisas Nucleares, ambas na casa dos 70 anos, estão, como muitos jovens, desiludidas com os atuais políticos. Elas dizem que seria bom se os ativistas da Praça da Independência entrassem para a política e participassem do governo. E que eles devem lutar “pela libertação de todos os manifestantes presos injustamente”.

A escritora de livros infantis Lessia Voronena também acha que a praça deve continuar ocupada até a eleição de um novo governo em que possam confiar. Ela acredita que Yulia possa mudar alguma coisa, e observa que foi a única que apresentou um plano de governo, no discurso da noite de sábado.

“O presidente Yanukovich precisa ser encontrado e preso”, defende Henadi Vlassuk, de 44 anos, que trabalha na construção civil. Ele acha que Yulia fez um discurso arrogante, centrado nela própria, e que não agradeceu o suficiente aos manifestantes, apesar de ter sido solta graças a eles. Vlassuk diz que votaria para presidente em Petro Proshenko, que deixou o partido Pátria, de Yulia, e se tornou deputado independente. Proshenko frequenta a praça, ocupada há três meses.

Outro deputado que esteve constantemente lá, o ex-boxeador Vitaly Klitschko, não foi citado por nenhum entrevistado do Estado. Ele e os dirigentes dos outros dois principais partidos de oposição, Arseniy Yatsenuk, do Pátria, e Oleh Tyahnybok, do Partido da Liberdade, de ultradireita, ficaram desacreditados por terem firmado na sexta-feira um acordo com Yanukovich.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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