Rússia aproxima tropas da Ucrânia e EUA advertem sobre intervenção

Quatro dias após a queda de Yanukovich, aliado de Moscou, militares russos conduzem maior exercício de guerra em vários anos na região

KIEV – O presidente russo, Vladimir Putin, colocou ontem em estado de alerta as Forças Armadas no Distrito Militar Ocidental e ordenou manobras militares de grande escala na região, que faz fronteira com a Ucrânia. A medida lembra os preparativos para a invasão da Geórgia, em 2008, em apoio a milicianos separatistas ossétios aliados de Moscou. Foi a primeira reação da Rússia à queda, no sábado, do presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, em meio a violentos protestos contra a interferência russa no processo de associação da Ucrânia à União Europeia.

É a primeira vez, nos últimos anos, que as Forças Armadas russas realizam exercícios nessa região: o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, disse em um encontro com o alto comando que as tropas devem estar “prontas para bombardear áreas de teste desconhecidas”. A manobra deve envolver 150 mil homens, segundo o ministro. De acordo com a Reuters, Shoigu afirmou que os exercícios não têm relação com os acontecimentos na Ucrânia, e já estavam planejados. Desde que reassumiu a presidência, em 2012, Putin tem ordenado esse tipo de manobras em várias regiões russas.

O presidente russo não fez nenhuma declaração desde a queda de Yanukovich. Em novembro, depois de se reunir com seu aliado russo em Moscou, o presidente ucraniano resolveu interromper um processo de associação à União Europeia, optando, em troca, por uma união aduaneira com a Rússia. A decisão desencadeou as manifestações em Kiev e em outras partes da Ucrânia, que evoluíram para a exigência de sua renúncia. Yanukovich deixou Kiev na sexta-feira e foi destituído pelo Parlamento no sábado.

Uma eventual entrada da Ucrânia na UE, que envolve várias etapas, tornaria o bloco europeu vizinho da Rússia. Moscou já assistiu à adesão dos seus antigos satélites no Leste Europeu tanto à União Europeia quanto à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a aliança militar ocidental criada para defender a Europa da antiga União Soviética. A Ucrânia, com sua indústria siderúrgica, minas de carvão e grande produção de trigo, além de sua posição entre a Rússia e a Europa Oriental, é considerada historicamente um parceiro importante para Moscou.

O ministro interino do Interior, Arsen Avakov, anunciou ontem a dissolução da Berkut, a temida polícia de choque ucraniana. Essa força de elite é considerada responsável pela maior parte das cerca de cem mortes de manifestantes, não só em confrontos nas ruas, mas também pela ação de franco-atiradores postados no alto de prédios, na manhã da quinta-feira passada.

Os manifestantes afirmam que não desocuparão a praça enquanto Yanukovich e outros responsáveis pelo massacre não forem punidos. Vários locais na praça ainda estão com manchas de sangue, os objetos pessoais dos mortos e flores em sua homenagem. A polícia desapareceu das ruas. Grupos de manifestantes têm guardado dia e noite as saídas de Kiev e os acessos aos dois aeroportos da cidade, exigindo a apresentação de documentos de todos os que passam, para evitar a fuga de membros do antigo governo.

O paradeiro de Yanukovich é desconhecido. Especula-se que ele tenha fugido para a Criméia, no sul da Ucrânia, onde se concentra parte da minoria russa e se localiza uma importante base naval da Rússia. O Departamento do Tesouro americano ordenou aos bancos que fiquem atentos a transferências de valores suspeitas por Yanukovich e membros de seu círculo íntimo.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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