Junta militar confirma eleições

Manifestantes continuam a exigir saída imediata dos militares do poder

CAIRO – A junta militar que governa o Egito confirmou ontem a realização das eleições parlamentares, marcadas para começar na segunda-feira, prosseguindo, em seis turnos, até março do ano que vem. O anúncio coincidiu com uma trégua entre manifestantes e policiais, que começou a ser observada a partir das 6 horas de ontem. A junta afirmou que um novo gabinete civil deve ser formado até segunda-feira e pediu desculpas pelas mortes de 38 manifestantes.

Essas concessões, combinadas com o anúncio, feito na segunda-feira, da realização de eleição presidencial até o fim de junho, não foram suficientes para os manifestantes que ocupam a Praça Tahrir, no centro do Cairo, e continuaram exigindo a imediata saída dos militares do poder. Eles prometem para hoje, dia do descanso semanal muçulmano, uma “marcha de 1 milhão” na Praça Tahrir. Outra manifestação, de apoio à junta militar, está marcada também para depois da oração do meio-dia, na Praça Abbasya, a 15 minutos da Tahrir.

“Sair agora seria trair a confiança depositada nas nossas mãos pelo povo”, declarou, em entrevista coletiva, o general Mukhtar el-Mallah, número 2 do Conselho Supremo das Forças Armadas, que governa o país desde a queda de Hosni Mubarak, em fevereiro. “Não vamos renunciar ao poder porque uma multidão cantando slogans quer isso. Estar no poder não é uma bênção. É uma maldição, uma responsabilidade muito grande.” Na entrevista, a cúpula militar deixou claro que não pretende fazer mais concessões.

Mahmud Afifi, porta-voz do Movimento 6 de Abril, uma das organizações que lideram os protestos, disse ao Estado que as ofertas dos militares não são suficientes. “As desculpas vieram tarde demais e os militares insistem que os mortos são vítimas, não mártires”, observou Afifi, um advogado de 26 anos. “Estão atuando da mesma forma que Mubarak. Insistimos que os militares transfiram todo o poder para um governo civil.”

O gabinete civil anterior renunciou na segunda-feira, em protesto contra a repressão às manifestações. Os críticos dizem que ele não tinha poder efetivo, e quem governa de fato são os militares. A junta anunciou na segunda-feira a formação de um “gabinete de salvação nacional”, mas não se sabe como ele será composto.

Jovens manifestantes, incluindo profissionais e estudantes da área da saúde, com jalecos brancos, formaram cordões ontem na entrada das ruas que levam ao prédio do Ministério do Interior, foco dos confrontos, para separar os manifestantes dos policiais.

Antes da entrada em vigor da trégua, a jornalista egípcia de origem americana Mona el-Tahawy, de 44 anos, foi presa na linha de frente do confronto com a polícia nos arredores do ministério na madrugada de ontem. Ela disse que os policias a golpearam com cassetetes, quebrando seu braço esquerdo e sua mão direita. Mona acusou ainda os policiais de agredi-la sexualmente, agarrando seus seios e colocando as mãos entre as suas pernas.
Em sua página no Twiter, Mona aparece com os dois braços engessados.  A jornalista, que dá palestras criticando o islamismo radical, chegou de Nova York na noite de quarta e foi direto para a Praça Tahrir. Ela diz ter ficado detida durante 12 horas, e acredita que só não teve destino pior por ser cidadã americana.

Publicado no Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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