Manifestações unem cristãos e muçulmanos

Logo depois de entrar na Praça Tahrir, Hany Mohamed junta-se a um grupo de homens ajoelhados na calçada, para a quarta oração do dia. Adel Wagdi espera a alguns metros. “Sou cristão”, explica. 

CAIRO – Tem havido celebrações cristãs na praça, rodeadas por muçulmanos em gesto de proteção. Num cartaz de papelão feito à mão, uma lua crescente e uma cruz selam a harmonia entre as duas religiões, num país em que são comuns ataques contra igrejas coptas (cristãs). O último ocorreu na virada do ano, em Alexandria, em que a explosão de uma bomba matou 23 pessoas. Os coptas são 9% da população. Um cartaz escrito em inglês, dirigido a Mubarak, diz: “Obrigado por nos unir. Agora vá embora.”

Rindo, Wagdi saca o celular do bolso para fotografar um homem com outro cartaz: “Mubarak, filho de Shaddad (herói pré-islâmico da Península Arábica), usou os camelos dele para liberar a praça”, em referência à montaria usada por homens que atacaram os manifestantes na semana passada.

Os egípcios trouxeram sua famosa verve humorística para a praça. Outro cartaz diz: “Eu preferia que o primeiro ataque aéreo (do Egito contra Israel, na guerra de 1973, que resultou na derrota árabe) tivesse sido contra o Egito, e Mubarak tivesse governado Israel por 30 anos.” Uma moça segura um cartaz pedindo: “Preciso me formar. Vão embora.” Escolas, assim como o comércio e serviços, estão fechadas desde o início dos protestos.

Do outro lado da praça, parte das pedras reunidas para defender os manifestantes dos ataques de grupos pró-Mubarak é usada para escrever frases no chão, como “US$ 70 bilhões”, a fortuna que se acredita que Mubarak e sua família tenham amealhado intermediando virtualmente todos os negócios importantes no país. E, para ter certeza de que o presidente entendeu, a mesma mensagem foi escrita com pedras em quatro línguas: “Go away, Fuera, Dégage, Raus”. Há muitas palavras de ordem, mas a preferida é essa: “Erhal” – “Vá embora”.

 “Ele é presidente desde que nascemos”, dizem Mohamed e Wagdi. “Chega.”

Publicado no Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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