Forças de Kadafi lançam maior ofensiva

Brigadas de elite, apoiadas por aviões e tanques, bombardeiam Ajdabiya, forçando os rebeldes a abandonar linhas de defesa

BENGHAZI – As forças leais ao ditador Muamar Kadafi realizaram ontem a maior ofensiva militar desde o início do levante armado na Líbia, no dia 17. As kataeb, as brigadas de elite, bombardearam intensamente Ajdabiya, 160 km a oeste de Benghazi, o principal reduto rebelde, com foguetes do tipo Grad. Apoiadas por aviões e tanques, as forças de Kadafi forçaram os rebeldes a abandonar as linhas de defesa da cidade e a cercaram. “Fomos atacados de surpresa e perdemos”, admitiu o general Suleiman, que comanda as forças rebeldes em Ajdabiya.

Moradores de Ajdabiya ouvidos pelo Estado disseram que áreas residenciais da cidade, de cerca de 150 mil habitantes, foram atingidas pelos foguetes. “Foi a maior matança já realizada por Kadafi”, afirmou um morador aterrorizado, que pediu para não ser identificado. As forças de Kadafi avançavam ontem à noite por terra em direção a Benghazi, a segunda maior cidade do país, com 1 milhão de habitantes.

O avanço das forças do governo coincidiu com uma proeza também inédita dos rebeldes. Eles anunciaram ter afundado dois navios militares e danificado um terceiro no Golfo de Sirt, em cuja costa ficam Ajdabiya e os complexos petrolíferos de Brega e Ras Lanuf, também retomados pelas kataeb nos últimos dias, com o apoio de barcos. Os rebeldes utilizaram pela primeira vez os aviões militares que haviam capturado quando um general passou para o seu lado, no fim de semana.

Quando a notícia do primeiro ataque aéreo chegou, no meio da tarde, os manifestantes que se concentram na Praça dos Mártires, em Benghazi, tiveram uma explosão de euforia, gritando: “Allah-u-Akbar”, “Deus é grande”. Quando a tarde caiu, e as informações sobre o ataque a Ajdabiya se espalharam, a praça ficou semideserta, assim como as ruas de Benghazi.

“Temos dois ou três aviões, mas, como toda a Força Aérea líbia, são aviões velhos, russos, tipo MiG e Sukhoi, e não representam muito diante da capacidade de ataque aéreo do regime”, disse ao Estado Mustafa Gheriani, porta-voz do Conselho Nacional Provisório. “Estamos muito decepcionados com o Ocidente. Os europeus ainda não decidiram sobre a zona de exclusão aérea.”

Gheriani continuou, num tom amargo: “As pessoas que fizeram essa revolução têm o Ocidente como modelo. Se o Ocidente as desapontar, há o risco de elas serem conquistadas pelo extremismo islâmico. Aí não valerá mais a pena viver neste país.”

Havia temores ontem à noite em Benghazi de que parte das tropas pudesse pegar a estrada de cerca de 500 km que corta o deserto, ligando Ajdabiya e Tobruk, e dali fechar o acesso à fronteira com o Egito, controlada pelos rebeldes. Em Benghazi, Tobruk e outras cidades do leste, milhares de homens armados de fuzis e um número estimado de 400 peças de artilharia antiaérea e antitanque prometem lutar até a morte para impedir a sua retomada pelas forças do regime. O cenário mais provável é o conflito evoluir para uma longa guerra de guerrilha, com batalhas localizadas por pequenas fatias de território.

 As forças de Kadafi retomaram ontem também Zwara, a 113 km de Trípoli, última cidade a oeste da capital que permanecia sob controle dos rebeldes. A cidade de 45 mil habitantes havia sido cercada na segunda-feira pelas kataeb, que passaram a atacá-la com tanques e peças de artilharia. As kataeb apertavam ontem o cerco contra Misrata, a única cidade na região oeste do país ainda nas mãos dos combatentes oposicionistas.

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