Insurgentes assumem controle total de Trípoli e atacam cidade natal de Kadafi

Depois de uma batalha que atravessou a noite, rebeldes ocuparam área perto do aeroporto; falta de água agrava condições de vida em Trípoli

TRÍPOLI – As forças rebeldes declararam ontem ter assumido o controle total sobre Trípoli, depois de rechaçar as tropas leais a Muamar Kadafi no sul da capital. Os insurgentes obtiveram outra importante conquista, ao expulsar as forças leais ao regime do posto de Ras Ajdir, na fronteira norte com a Tunísia, abrindo caminho para a entrada de suprimentos. Com isso, os rebeldes se concentram agora na caçada a Kadafi e na tomada de Sirte, cidade natal e reduto do ditador, 450 km a leste de Trípoli.

Depois de uma batalha que atravessou a noite, os insurgentes ocuparam a localidade de Qasr bin Ghashir, próximo ao aeroporto, 20 km ao sul de Trípoli. O comandante rebelde Omar al-Ghuzayl disse à Associated Press que seus combatentes haviam expulsado as tropas de Kadafi “completamente” da capital. A situação em Trípoli é mais calma, apesar da presença de franco-atiradores. O abastecimento de água foi cortado há três dias, deteriorando as condições de vida na cidade, já castigada pelo blecaute e pela precariedade das linhas telefônicas. O litro da gasolina, que antes custava menos de US$ 0,05, saltou para US$ 5, e é difícil de encontrar. As lojas só vendem um engradado de água mineral por pessoa, para atender a todos.

A maioria do comércio, que normalmente abre por volta das 10 horas no Ramadã, permanece fechada o dia todo. Há poucas verduras, frutas, carne e outros alimentos frescos. O lixo não é recolhido. Os hospitais estão cheio de cadáveres e de feridos das batalhas por Trípoli, ocorridas ao longo da última semana. É verão, e a temperatura se aproxima dos 40 graus no início da tarde.

Nessa situação, os moradores de Trípoli não podem preparar-se para a tradicional festa de Eid al-Fitr, que celebra o fim do Ramadã, o mês de jejum entre o amanhecer e o anoitecer. Isso ocorrerá durante essa semana, quando a lua reaparecer.

A tomada do posto de fronteira de Ras Ajdir é considerada vital para restabelecer o abastecimento de água, alimentos, medicamentos e combustíveis para Trípoli e outras cidades do país. As fontes de água que abastecem a capital ficam cerca de 500 km ao sul, numa área ainda controlada pelas forças de Kadafi, no Deserto do Saara. Os rebeldes já controlavam o posto de fronteira de Wazen Dhehiba, mais ao sul, a 430 km de Trípoli.

A estrada que a liga à capital, usada pelo Estado para chegar a Trípoli, atravessa as montanhas de Nafusa, tornando o acesso mais difícil e lento. Ras Ajdir é ligada a Trípoli pela estrada costeira, mais larga, direta e rápida, com 280 km. Mas com presença maior de forças leais a Kadafi.

Os aviões da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) continuaram bombardeando posições das forças leais a Kadafi em Sirte, onde uma grande quantidade de combatentes rebeldes se concentra. Há especulações de que o ditador pudesse ter-se escondido lá, embora ninguém saiba ao certo seu paradeiro.

Depois da queda de Trípoli, Sirte converteu-se na principal base de operações das forças leais a Kadafi, que na semana passada chegaram a disparar de lá mísseis Scud, com alcance de até 350 km, contra o complexo petrolífero de Brega e a cidade de Misrata, controlada pelos rebeldes. Segundo a agência Reuters, uma fonte da Otan informou que aviões da aliança detiveram o avanço de uma coluna de 29 veículos que se deslocava de Sirte para Misrata.

Publicado no Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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