Kadafi fecha o cerco contra rebeldes

Com artilharia pesada, forças leais ao regime avançam sobre territórios perdidos

BENGHAZI – As forças militares do ditador Muamar Kadafi eliminaram ontem os últimos focos de resistência rebelde no complexo petrolífero de Brega, 230 km a oeste de Benghazi, a principal cidade controlada pela oposição, e 820 km a leste da capital, Trípoli. As “kataeb”, brigadas de elite leais ao regime, bombardearam a cidade com foguetes e morteiros, provocando a fuga dos combatentes para o leste e para o deserto, ao sul.

Um repórter que saiu ontem de Brega disse não ter visto combatentes rebeldes na saída da cidade em direção a Benghazi. A estrada parece relativamente liberada para o avanço das forças de Kadafi. Embora sua população seja de apenas 2 mil habitantes, Brega tem um dos maiores complexos petrolíferos da Líbia, com refinaria, terminal portuário e um gasoduto que parte de lá em direção à Itália.

Sua refinaria foi palco da primeira batalha no leste, no dia 1º, vencida pelos rebeldes, abrindo caminho para seu avanço sobre outro complexo petroquímico, Ras Lanuf, 150 km a oeste, e a cidade de Bin Jawad, outros 45 km também a oeste. A Bin Jawad, no entanto, as kataeb chegaram com armamento mais pesado e montaram uma contra-ofensiva. Apoiadas por tanques, aviões e barcos, as brigadas avançaram 150 km em 24 horas, de sexta-feira para sábado, entre Ras Lanuf e Brega.

A sensação em Benghazi ontem era a de que a “Revolução” estava arrefecendo. O número de manifestantes na Praça dos Mártires, onde começaram os protestos pacíficos, no dia 15, diminuiu consideravelmente. Em meio à percepção de que a cidade poderá ser bombardeada, por ar ou pelo mar, ou mesmo cercada por terra, havia muito menos carros e pessoas nas ruas, e menos lojas abertas ainda do que na véspera – quando já eram uma pequena minoria. Domingo é um dia normal na Líbia, cujo descanso semanal é nas sextas-feiras.

O Estado chegou ontem à noite a Tobruk, 500 km a leste de Benghazi e uma das primeiras cidades tomadas pelos rebeldes. Na estrada, apenas seis barreiras militares, cada uma controlada por dois ou três soldados do Exército regular. A saída leste de Benghazi está desguarnecida. Ao longo da estrada, parte dela no deserto, o Estado só viu uma caminhonete com peça de artilharia montada na carroceria, do tipo usado pelos rebeldes, e até os últimos dias tão comum do lado oeste.

Em Trípoli, um porta-voz das Forças Armadas regulares ( que excluem as brigadas de elite) esbanjou confiança. “Estamos marchando para limpar o país”, disse o coronel Milad Hussein, em entrevista coletiva. “Nossos ataques estão forçando os terroristas a fugir. O Exército está avançando para liberar o resto das regiões. Esta noite ou amanhã (hoje) vocês terão notícias do progresso feito pelos soldados.” Hussein disse que não será necessária “uma verdadeira ofensiva armada”, porque os rebeldes “são ratos e terroristas que fogem diante dos ataques do povo e de voluntários”.

Ele negou a versão de que um ataque dela Brigada Khamis, que leva o nome do filho de Kadafi que a comanda, contra a cidade de Misrata tivesse sido retardada por causa de um motim por soldados que não queriam atirar contra outros líbios. Situada 150 km a leste de Trípoli, Misrata, a terceira maior cidade do país, é a agora a única da região oeste nas mãos dos rebeldes.

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