Liga Árabe pede intervenção na Líbia

Reunidos no Cairo, líderes pedem que ONU imponha uma zona de exclusão aérea para interromper avanço de forças leais a Kadafi

BENGHAZI – A Liga Árabe pediu ontem o estabelecimento de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, enquanto as forças leais ao ditador Muamar Kadafi continuavam sua contra-ofensiva em direção ao leste. Em menos de 24 horas, as “kataeb” (“brigadas”) avançaram 70 km. Tomaram na noite de sexta-feira as instalações do complexo petroquímico de Ras Lanuf, 670 km a leste da capital, Trípoli. Ontem no fim da tarde, apoiadas por tanques e barcos, ocuparam Brega (70 km mais a leste), outro complexo petrolífero. Debaixo de intenso bombardeio aéreo e disparos de tanques e foguetes, muitos rebeldes fugiram para o deserto, ao sul.

Reunida no Cairo, a Liga Árabe aprovou um pedido ao Conselho de Segurança da ONU pedindo o estabelecimento da zona de exclusão aérea, para impedir Kadafi de usar seus aviões para bombardear os rebeldes. Essa é também a posição da União Europeia – e aparentemente dos Estados Unidos -, mas a comunidade internacional esperava que a Liga Árabe tomasse a iniciativa.

Brega, situada 310 km a oeste de Benghazi, a principal cidade sob controle rebelde, foi cenário de uma sangrenta batalha vencida pelos rebeldes no dia 1º. Naquele momento, as forças do governo eram compostas em grande parte por mercenários da África Subsaariana, cujas armas mais pesadas eram peças de artilharia antitanque e antiaérea.

Depois que os rebeldes tomaram Ras Lanuf, no dia 3, e avançaram para Bin Jawad, 45 km a oeste, as forças do governo reagiram. Os integrantes das kataeb, brigadas de elite, chegaram a Bin Jawad com foguetes, tanques e apoio de helicópteros e aviões, e contiveram o avanço dos rebeldes rumo a Sirt, a cidade natal de Kadafi e reduto de sua tribo, situada no centro do território líbio. A partir daí, as kataeb têm provado sua superioridade dia após dia. A Marinha líbia também entrou em ação. Foguetes foram disparados de barcos da costa mediterrânea contra Ras Lanuf na quinta-feira, e no dia seguinte soldados desembarcaram na cidade.

Seif al-Islam, filho de Kadafi e que era preparado para suceder o pai, tem dito que as forças do governo avançarão até retomar Benghazi e o restante do território líbio. O general Abdel-Fattah Younis, que deixou o cargo de ministro do Interior e aderiu ao levante desde o início, há três semanas, disse à Associated Press que os rebeldes tentariam retomar Ras Lanuf, “o mais tardar” hoje. Mas a maioria dos combatentes é civil e age sem nenhum comando.

Em entrevista coletiva ontem à noite, o general Omar Hariri, que faz a ligação entre o comando militar rebelde e a liderança civil, admitiu que as Forças Armadas desertoras relutam em atacar seus companheiros leais ao governo líbio. Respondendo a uma pergunta do Estado, sobre por que os três navios de guerra ancorados em Benghazi não foram usados para conter o desembarque de tropas na costa de Ras Lanuf , o general disse que os soldados inimigos eram transportados por um petroleiro e por isso não foram atacados.

Rebeldes e moradores de Misrata, 200 km a leste de Trípoli, disseram à Reuters que as forças leais ao governo estavam lançando um ataque para retomar a cidade, a terceira maior do país, e a única ainda sob controle da oposição na região oeste da Líbia.

O governo levou jornalistas a Zawiya, 50 km a oeste de Trípoli, retomada na quarta-feira. A cidade de 200 mil habitantes foi semidestruída pelas intensas batalhas. Um morador disse a um repórter da Associated Press que as kataeb esmagaram 24 corpos de rebeldes com uma motoniveladora na praça central da cidade, que de fato tinha sido aplanada. Já o vice-ministro das Relações Exteriores, Khaled Qaid, disse que o total de mortos foi 14, somando os dois lados.

Houve um protesto ontem em frente ao consulado sírio em Benghazi, contra um suposto carregamento de armas vindo da Síria para as forças de Kadafi.

Publicado no Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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