Maior ofensiva de Kadafi deixa pelo menos 100 mortos em reduto rebelde

Pilotos leais ao governo bombardearam base de Al-Rajma, uma das principais da oposição, destruindo arsenal

BENGHAZI – Um bombardeio da Força Aérea líbia destruiu a base do Exército de Al-Rajma, 30 km a leste de Benghazi, a principal cidade controlada pelos rebeldes, matando pelo menos 100 pessoas e destruindo 430 peças de artilharia antitanque. Foi a maior ação militar desde o início dos confrontos, há duas semanas, e a primeira vez que a Força Aérea leal ao ditador Muamar Kadafi bombardeou uma instalação militar do Exército rebelde. O ataque coincidiu com o avanço das forças rebeldes em direção a oeste.

O general rebelde Mohamed Zadia disse ao Estado que entre 80 e 100 soldados e civis, além de 18 bombeiros, morreram no ataque à base, ocorrido às 18h30 de sexta-feira. Quando o Estado chegou à base, na manhã de ontem, os pneus de algumas peças de artilharia ainda estavam pegando fogo. Dois aviões sobrevoavam uma área próxima, onde lançaram outro míssil.

As peças de artilharia antitanque, com quatro canhões de 14,5 mm cada, estavam estacionadas num grande pátio, formando um quadrado de 20 fileiras por 20. Três prédios ao lado, também destruídos, abrigavam mais 30 peças – ainda não usadas. Num galpão, havia outras 30 peças de artilharia antiaérea, com dois canhões de 23 mm cada, que ficaram intactas. Soldados do Exército as estavam retirando ontem em caminhões.

De acordo com o general, o avião lançou os dois mísseis contra a base do alto da cidade de Gemines, a 50 km de distância. Houve um intervalo entre um míssil e outro, suficiente para que dois caminhões de bombeiros chegassem do aeroporto, a 10 km da base, para apagar o incêndio causado pela explosão do primeiro míssil. O segundo míssil foi então disparado, matando os 18 bombeiros e destruindo os dois caminhões.

O impacto das explosões destruiu carros estacionados fora da base e espalhou por centenas de metros pedaços de metais retorcidos. “A vitória está muito próxima de nós”, exclamou o general. “Kadafi está matando o povo líbio, mas nós vamos tirá-lo de lá.” Civis recolhiam de um paiol abarrotado cartuchos de balas para fuzis-metralhadoras.

No pátio próximo ao galpão com as peças antiaéreas, cerca de 200 caixas de balas e de granadas de morteiro abertas e vazias se espalhavam pelo chão. A base era usada para treinamento das dezenas de recrutas que se apresentam todos os dias em Benghazi como voluntários para lutar contra as forças do governo.

Em Ras Lanuf, 380 km a oeste de Benghazi, as forças rebeldes derrotaram os soldados e mercenários leais a Kadafi na sexta-feira. Ontem avançaram cerca de 80 km, assumindo posição cerca de 50 km a leste de Sirt, a cidade natal de Kadafi e reduto de seu clã. Uma eventual tomada de Sirt teria forte simbolismo. Ras Lanuf, com apenas 4 mil moradores, é importante por sua refinaria de petróleo e gás, um porto do Mediterrâneo, para exportação de petróleo, e duas pistas de pouso. No caminho, os rebeldes tomaram a cidade de Bin Jawad, 45 km a oeste de Ras Lanuf.

Outra cidade com instalações de petróleo, Az-Zawiyah, 50 km a oeste da capital, Trípoli, era disputada ontem num confronto sangrento, que deixou pelo menos 30 mortos. Segundo moradores, integrantes das forças especiais de Kadafi arrancavam pessoas de dentro de suas casas e as executavam nas ruas da cidade de cerca de 300 mil habitantes.

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