Militares ‘revolucionários’ agem sem comando em operações

Soldados que desertaram para apoiar a oposição avançam por conta própria contra forças de Kadafi e mercenários

AJDABIYA, Líbia – Mussa Abdul Gader, um soldado de 20 anos, avançava com outros cinco combatentes, entre militares e civis, em Noflia, 50 km a oeste de Bin Jawad. Quando passavam na frente de um restaurante na beira da estrada, às 13 horas, franco-atiradores abriram fogo. Gader caiu, atingido na coxa esquerda. Sentado ontem à noite com a coxa e o joelho enfaixados, no Hospital Emhemed el-Mugarief, em Ajdabiya, aonde foi trazido por uma ambulância, o soldado contou que não recebeu ordens de avançar. “Apenas decidimos ir e fomos”, explicou Gader, acrescentando que seu objetivo era chegar a Sirt, cidade natal do ditador Muamar Kadafi, 150 km a oeste de Ben Jawad.

A história de Gader diz muito sobre a natureza do levante armado contra o coronel Kadafi: mesmo a pequena minoria de militares que fazem parte dos “revolucionários” age sem comando. Mohamed Feitury, de 30 anos, conta que era cabo do Exército até um ano atrás, quando foi dispensado, como parte de uma onda de demissões no governo, não só entre militares mas também civis. “Kadafi prefere mercenários”, ironizou Feitury, que recebia um soldo de 334 dinares líbios (US$ 267), e foi dispensado sem receber indenização trabalhista. Ontem à tarde, Feitury preparava-se, na barreira dos rebeldes na saída de Ras Lanuf, para enfrentar as forças de Kadafi – incluindo seus mercenários.

O engenheiro eletricista Salem el-Wafi, de 58 anos, exibia uma foto e o passaporte do tenente-coronel Abdel Hafeed Lamin Shueigi, segundo ele conhecido por recrutar os mercenários. Junto com outros quatro combatentes, El-Wafi invadiu ontem a casa do tenente-coronel em Ras Lanuf, onde disseram ter encontrado “muitas” carteiras de identidade de cidadãos da África negra. O próprio Shueigi nasceu na Tunísia, segundo seu passaporte líbio.

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