‘Nossos fuzis são pistolas de água perto das armas deles’

Histórias de combatentes voluntários em Ras Lanuf mostram luta desigual com brigadas de Kadafi

RAS LANUF, Líbia – Rafiq Zwawi foi buscar em casa o seu colega Mohamed el-Gon, ambos dentistas e com 26 anos, e percorreram na tarde de domingo os 380 km entre Benghazi e Ras Lanuf, no seu sedã Daewoo. Zwawi veio de abrigo de moletom e tênis; El-Gon, com uma farda militar completa. Os dois trouxeram fuzis. Em Ras Lanuf, conheceram o estudante de medicina Anas Salah, de 23 anos, e o serralheiro Khamis Moftah, também armados de fuzis. Formaram então um grupo.

No início da tarde de ontem, os quatro partiram para Bin Jawad. Às 17h30, voltaram assustadíssimos. “Vimos a morte com nossos olhos”, disse Zwawi. Quando chegaram à cidade, encontraram lá combatentes rebeldes com peças de artilharia e fuzis. Começaram a disparar contra os soldados do governo, que responderam com tanques e foguetes antiaéreos. “Nossos fuzis são pistolas de água perto das armas deles”, comparou Zwawi. O carro que estava atrás do deles foi destruído. O motorista tinha acabado de descer do carro para pegar um isqueiro que caíra no chão. Foi salvo pelo isqueiro. Eles o trouxeram para Ras Lanuf.

“Deus me deu uma vida nova”, disse o dentista, repetindo uma frase comum entre os combatentes. “Vou voltar para minha mãe em Benghazi.” Muitos combatentes em Ras Lanuf têm curso superior ou estudam na universidade; outros são comerciantes, pequenos empresários e trabalhadores braçais. Em geral dizem que têm uma vida confortável, e não estão lutando para melhorar de vida, mas por “liberdade”.

Mohamed el-Homari, de 27 anos, estuda informática e trabalha numa agência de viagens. Ele conta que viu muito de perto os soldados de Kadafi, na noite de segunda para terça-feira. Estava num grupo com três carros de combatentes armados de fuzis e de foguetes disparados do ombro (RPGs), Ouvimos os soldados das kataeb (brigadas do governo) dizendo: ‘Matem esses filhos da puta’.”

Os inimigos estavam em nove caminhonetes, cheios de soldados e peças de artilharia, relata El-Homari. Vigiavam a área girando um canhão de luz potente, mas ele conseguia esquivar-se. Os soldados começaram a disparar. O estudante reparou que entre os que estavam do seu lado havia dois garotos, de 16 a 17 anos, desarmados. Tinham ido para ajudar os combatentes, por exemplo pegando munição para eles. Um foi morto com um tiro no pescoço e o outro teve o corpo cortado ao meio. “Kadafi destruiu o futuro deles”, diz El-Homari.

Publicado no Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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