Rebeldes fogem de Ras Lanuf sob forte bombardeio

Tomada do complexo petrolífero é vitória do regime de Kadafi, que contém avanço insurgente

RAS LANUF, Líbia – Sob forte bombardeio de três flancos da cidade, os rebeldes desocuparam ontem o complexo petroquímico de Ras Lanuf, desde sexta-feira o ponto mais a oeste da Líbia por eles controlado. Foi uma vitória importante do governo do ditador Muamar Kadafi, que conteve o avanço dos rebeldes em direção a oeste e empurrou a linha de divisória do território 45 km para leste – a distância entre Ras Lanuf e Bin Jawad, antes sob disputa.

Durante toda a manhã e início da tarde, Ras Lanuf foi alvo de foguetes disparados do oeste, no rumo de Bin Jawad, e de tanques avançando pelo sul, onde fica o Deserto do Saara. Na costa mediterrânea, a norte, barcos também lançavam foguetes, um dos quais atingiu a mesquita ao lado do hospital de Ras Lanuf. As kataeb (brigadas leais a Kadafi) haviam feito um movimento de pinça.

O repórter do Estado viu, no fim da manhã, quando os rebeldes dispararam contra um dos barcos três foguetes de uma bateria de 12, montada sobre uma caminhonete Toyota Land Cruiser bege, o veículo padrão usado pelos militares líbios. Erraram o alvo, o barco escapou na direção oeste e ainda houve um início de incêndio na bateria. Ao mesmo tempo, muitos rebeldes com peças de artilharia formavam uma linha de frente para o deserto, de onde os tanques avançavam.

Nesse momento, a linha de defesa de Ras Lanuf, que na quarta-feira ficava 10 km a oeste da cidade, tinha se desfeito. Franco-atiradores protegidos pelas dunas disparavam fuzis, cobrindo o avanço por terra. Bin Jawad, que os rebeldes haviam tomado no fim da tarde de quinta, voltou para as mãos do governo.

O hospital de Ras Lanuf, uma das áreas mais castigadas pelo bombardeio, foi esvaziado. Um comboio de ambulâncias seguiu para Brega, 70 km a leste, e Ajdabiya, a 200 km. Ao hospital de Brega, os médicos informaram que chegaram 4 mortos e 32 feridos.

Brega também foi bombardeada ontem por aviões e baterias de foguetes estacionadas no deserto. À noite, um avião sobrevoou baixo o suficiente para ser visto a sudeste do hospital. Os rebeldes, que se reagruparam ali, abriram fogo com sua artilharia antiaérea e balas tracejantes. O avião desapareceu no céu. Até as 20 horas (15 horas em Brasília), quando o Estado deixou a cidade, Brega, que também tem uma refinaria, continuava controlada pelos rebeldes.

Mas a frustração com a perda de Ras Lanuf era visível. “As kataeb estavam disparando a esmo foguetes grandes”, disse o ex-cabo Abdel-Latif Shaglouf, de 42 anos, hoje dono de uma loja de autopeças em Benghazi. “Nossa gente não tem esse tipo de armas.” Shaglouf, que deixou o Exército em 1996 por causa do salário baixo, estava numa caminhonete com quatro soldados da ativa do Exército, seus amigos, um canhão de artilharia de 14,5 mm, capaz de derrubar helicópteros, montado sobre a carroceria, um foguete com sensor de calor, que pode atingir aviões, e fuzis. Ele contou que retirou o armamento do quartel das kataeb em Benghazi, tomado no dia 20 por manifestantes apoiados pelo Exército regular, que aderiu à luta.

À pergunta sobre onde estava o armamento pesado do Exército, o ex-cabo respondeu: “Em Benghazi. Não temos apoio do comando militar. Não sabemos quem está do nosso lado e quem está contra nós.” Shaglouf continuou: “No mundo todo um Exército demora no máximo 72 horas para se reagrupar e mobilizar. Só aqui demora tanto tempo.”

“O Exército virá, se Deus quiser”, animou-se o soldado Jamal el-Abid, de 26 anos. “Nossos comandantes estão preparando outras unidades para vir.” Shaglouf arrematou: “De qualquer maneira, não vamos sair daqui.”

Publicado no Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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