Sem comando, combatentes civis agem por conta própria

Clérigos vão a Ras Lanuf pedir que voluntários confiem em militares e os obedeçam

RAS LANUF, Líbia – Sete pescadores – quatro deles, irmãos – e um estudante posam para a foto no posto de controle dos rebeldes em Ras Lanuf segurando um pente de balas de 23 mm de artilharia antiaérea como se fosse um peixe. À pergunta sobre se mataram alguém na batalha de ontem por Bin Jawad, da qual participaram, eles respondem que não: “Queremos ser mártires”, dizem os irmãos, que têm entre 19 e 29 anos.

“Não tínhamos nenhum comandante para nos dizer o que fazer”, completa Issam al-Salhem, estudante de ciências sociais. Às 13 horas locais, eles dispararam a peça de artilharia que levam montada sobre uma caminhonete retirada da Refinaria Sidra,10 km a oeste de Ras Lanuf. Ficaram sob o forte bombardeio de foguetes lançados pelas forças leais a Muamar Kadafi, de Bin Jawad, e recuaram para Ras Lanuf.

Quatro xeques pertencentes ao comitê que assessora a liderança civil dos rebeldes para assuntos religiosos chegaram ontem de Benghazi para conversar com os combatentes, e a principal mensagem deles se referia ao problema da falta de comando. “Sigam a orientação de seus líderes”, pediu o xeque Ali al-Moghraby, falando com um megafone na frente do hospital de Ras Lanuf.

Soldados do Exército rebelde que escoltavam os clérigos queixaram-se de que os combatentes civis ignoraram a orientação dos militares para que não avançassem enquanto eles disparavam foguetes contra as forças leais ao governo em Bin Jawad. Mas muitos civis ouvidos pelo Estado disseram o mesmo que Al-Salhem: que não havia comando no campo de batalha.

O major Salem Abdel-Wahed reconheceu que até para os militares não há um comando centralizado em Ras Lanuf. “Nós, oficiais, discutimos entre nós o que fazer no terreno. O único comando centralizado é o do Conselho Militar em Benghazi.”

Enquanto o xeque Al-Moghraby falava, vários combatentes perguntaram onde estava o Exército. “Dou-lhes minha palavra que todo o Exército está com vocês”, jurou o xeque. “Eles apenas têm medo da reação de vocês ao se apresentarem. Então eu os aconselho a tratar bem os militares e a seguir suas ordens.” O xeque pediu também aos combatentes que não matem os soldados e mercenários pró-Kadafi que puderem tomar como prisioneiros. “Eles podem dar informações preciosas, como fizeram mercenários que prendemos em Benghazi.”

Publicado no Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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