Tropas de Kadafi obtêm vantagem sobre rebeldes nos principais fronts

Com armamento bem superior, forças especiais do regime barram investida da oposição contra Bin Jawad, no leste, e consolidam controle sobre Zawiyah, no oeste

RAS LANUF, Líbia – As forças leais ao ditador Muamar Kadafi avançaram ontem sobre os combatentes rebeldes nas duas frentes de batalha. No leste do país, os soldados das kataeb, as brigadas de elite que apoiam o regime, rechaçaram a tentativa dos combatentes de tomar Bin Jawad (625 km a leste de Trípoli), e empurraram a linha de frente 10 km a leste, em direção a Ras Lanuf. Intensa batalha continuava ontem à noite. Zawiya, 50 km a oeste da capital, ainda é disputada, mas as forças do governo parecem ter consolidado o cerco e avançado em direção ao centro da cidade.

Segundo relatos que chegaram a Ras Lanuf, 380 km a oeste de Benghazi, a principal cidade controlada pelos rebeldes, o Exército regular desertor chegou com tanques e outros armamentos para apoiar os combatentes civis e estacionou em Walid al-Hamar, 10 km a sudeste de Bin Jawad.

Deslocando-se pelo deserto, os militares rebeldes teriam feito um movimento de pinça, na sua primeira ação de apoio aos voluntários civis, depois que os desertores ajudaram os jovens manifestantes a expulsar os soldados das forças especiais no seu quartel de Benghazi. Mas combatentes que participaram ontem da batalha de Bin Jawad disseram ao Estado que não viram sinal da presença do Exército. Eles voltaram a Ras Lanuf assustados com a superioridade das brigadas do governo, que disparam foguetes antiaéreos num ângulo de zero grau, contra os combatentes.

O hospital de Ras Lanuf recebeu ontem 28 feridos. Não chegaram corpos inteiros, mas apenas pedaços, como pernas, braços e troncos. Na batalha anterior por Bin Jawad, domingo, pelo menos 10 pessoas morreram e 78 ficaram feridas.

Abdul Jalid Mohamed, de 25 anos, gerente de uma loja de autopeças em Benghazi, contou que não teve tempo de colocar no chão a peça de artilharia que trazia na caminhonete. Um primeiro foguete arrancou a cabeça de um homem ao seu lado, “derreteu a mão” de outro e feriu gravemente as costas de um terceiro. O segundo foguete passou por cima de sua cabeça. “Deus me deu outra vida”, disse Mohamed. O terceiro destruiu a peça de artilharia e o quarto, a caminhonete.

“Eu nem podia vê-los, mas tinha a sensação de que eles estavam mirando precisamente em nós”, contou o gerente convertido em combatente. Ele disse que sabe disparar a peça de artilharia, mas não mirar. Enquanto Mohamed conversava com o repórter, numa das três barreiras dos rebeldes na estrada em Ras Lanuf, cerca de 50 combatentes se aglomeraram ao lado, gritando: “Precisamos de comando, de alguém com experiência, que já tenha participado de uma guerra. Temos coragem e boas armas, mas não sabemos lutar.”

Às 22 horas locais (17 horas em Brasília), combatentes disseram, pedindo segredo, que o Exército havia passado pela estrada rumo a Bin Jawad com equipamento pesado, e que hoje pretendia atacar as kataeb de surpresa.

Ras Lanuf amanheceu ontem sob bombardeio aéreo. Dois mísseis caíram sobre uma casa, que, como quase todas no conjunto habitacional construído pela indústria petroquímica há 30 anos, estava vazia. A maioria dos 10 mil habitantes fugiu. O fornecimento de água da cidade foi cortado, talvez pelo rompimento da tubulação por um míssil.

Ao meio-dia, chegou a Ras Lanuf a informação de que os soldados das kataeb tinham abandonado Bin Jawad rumo a oeste. Parecia que as forças do governo tinham sido cercadas pelo Exército a sudeste e os combatentes civis a leste (ao norte, está a costa mediterrânea). Mas, quando avançaram sobre a cidade de 15 habitantes, foram recebidos com armamento pesado.

Um funcionário do governo anunciou ontem que as brigadas haviam recapturado Zawiyah, a cidade mais importante sob controle rebelde a oeste de Trípoli, com cerca de 300 mil habitantes. Mas moradores da cidade disseram à Associated Press que os rebeldes ainda controlavam a praça central de Zawiyah. As áreas residenciais estavam sob forte fogo de artilharia. A cidade está cercada e sem telefone.

Publicado no Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*