“Afaste-se dos integristas”, sugere agente

A Organização de Libertação da Palestina, com sede em Túnis, recebe todo o apoio e infra-estrutura do governo tunisiano.

 TÚNIS — Funcionários tunisianos da OLP contam que a organização é uma boa empregadora, com salários um pouco acima da média. Mas trabalham de segunda a segunda.

“Se o integrismo tomasse o poder, é quase certo que teriamos de deixar a Tunísia”, diz um alto funcionário palestino. “Muitos fundamentalistas acham que a OLP não é uma representante legítima dos interesses árabes, porque não é exclusivamente muçulmana, e é muito menos dogmática.” Há muitos cristãos entre os dirigentes palestinos, como sua principal porta-voz, Hanan Ashrawi. Entre os funcionários da OLP, é comum conviver durante anos sem saber a religião do outro.

“Para esses fundamentalistas, que confundem etnia árabe com religião muçulmana a OLP não é apropriada para lutar pela libertação dos lugares santos (de Jerusalém)”, constata o funcionário em Túnis.

Com visões tão diversas, os tunisianos entrevistados pelo Estado são unânimes numa coisa: não é bom falar de política na Tunísia. O Ministério do Interior, responsável pela “ordem” interna, é mais poderoso e bem-equipado que o da Defesa. Tem inclusive Brucutus e Cascavéis, blindados fabricados pela companhia brasileira Engesa.

A vigilância interna é ostensiva, com soldados de baionetas caladas e metralhadoras nas ruas, principalmente perto dos prédios públicos – e da emissora de TV estatal, alvo preferencial de terroristas e golpistas. É comum carros serem parados para inspeção, e caminhões de transporte de tropas passarem pelas barulhentas ruas da capital, onde os motoristas buzinam feroz e ininterruptamente, quase que por diversão.

0 resultado é que não há assaltos, nem drogas, nem mercado negro. “Qualquer pessoa desconhecida ou suspeita é interrogada”, diz um agente do Ministério do Interior, enquanto olha para todos os lados numa noite de sexta-feira no centro da cidade.

“Afaste-se dos integristas, eles são terroristas muito perigosos, e querem voltar ao passado.” Mas o agente não vê chances para eles na Tunísia: “Este não é como os outros países Árabes, nós temos padrão cultural melhor, somos mais educados.” A maioria dos tunisianos estuda em escolas mistas, de língua árabe e francesa. Quando um tunisiano, fala em árabe, é comum ouvir expressões como “bien sûr” ou “tout de suite”. Somente no interior se fala árabe puro.

Extravagância – As antenas parabólicas, freqüentes em Túnis, captam as emissoras francesas, italianas e alemãs, e com elas os mais extravagantes hábitos ocidentais. Erotismo e sexo explícito, principalmente nos shows e filmes noturnos, são rotina. Os dois canais locais, obviamente recatados e transmitidos em árabe, são do Estado, como todas as emissoras de rádio.

Um terceiro canal entrará no ar em novembro. Também estatal, a TV 7 transmitirá via satélite para outros países, visando os tunisianos que moram e trabalham no exterior, uma das principais fontes de renda do país, ao lado de fosfato, indústria têxtil e turismo. A televisão é paga na conta de luz. Há três diários de língua francesa e quatro árabes.

A principal empresa de comunicação, que edita La Presse e As-Sahafa, em Árabe, é semi-estatal. O redator-chefe Labassi garante que não há censura. Seu jornal, porém, é em explicitamente governista, com frases na primeira página, como “as prefeituras não param de receber apoio do presidente Ben Ali, que busca assegurar condições de vida decentes para os cidadãos tunisianos”.

 Mas o jornal Le Temps, considerado independente, não difere muito. Ao lado de notícias de futebol e do exterior, é possível divisar uma só frase na primeira página anunciando “as propostas da oposição”. Na notícia interna, o que se lê é uma lista de sugestões, sem nenhuma crítica. “A imprensa tunisiana até pode criticar o governo, mas com muita calma, sem ofender”, ironiza um membro da OLP.

Publicado no Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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