Ahmadinejad se reúne com intelectuais de esquerda no Rio

Presidente diz que Irã seguirá em frente com programa nuclear, apesar das sanções

RIO – O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, reuniu-se ontem com cerca de 60 intelectuais brasileiros de esquerda, numa manifestação de apoio à personagem mais controvertida dos 94 chefes de Estado e de governo presentes na Rio+20. “Hoje de manhã me reuni com um grupo de intelectuais da elite brasileira”, sublinhou Ahmadinejad, durante entrevista coletiva. “Apresentaram opiniões sobre os temas do mundo. Pessoas que lutaram por estabelecer a justiça na sociedade – uma longa luta. Alguns passaram mais de 20 anos na prisão para poder concretizar seus objetivos.”

Dentre os que se reuniram com Ahmadinejad estavam: o sociólogo Emir Sader, influente conselheiro para assuntos internacionais do PT; Carlos Zarattini, outro petista de São Paulo; Haroldo Lima, do PC do B, presidente da Agência Nacional do Petróleo no governo Lula; o   brizolista Fernando Peregrino, que foi candidato a governador pelo PR em 2010, ficando em terceiro lugar; e João Vicente Goulart, filho do ex-presidente João Goulart.

Na coletiva, em um hotel da zona sul do Rio, sob rigoroso esquema de segurança, Ahmadinejad garantiu que, apesar do acirramento das sanções econômicas, o Irã seguirá adiante com seu programa nuclear.  “Com seu pensamento materialista, eles acham que, rompendo as relações econômicas, podem atingir seus objetivos”, disse o presidente iraniano, que como sempre fez uma rápida oração antes da coletiva, e disse que falava “em nome de Deus”. “Estão errados. É nosso desejo cortar os laços de dependência dos países ocidentais.”

“Graças aos esforços de nossos especialistas e profissionais, grande parte das necessidades do país tem sido atendida (sem ajuda externa)”, vangloriou-se Ahmadinejad. “O Irã já é a 17a economia do mundo, e em breve será a 15a, sem apoio do Ocidente. Acho que o Irã é um bom modelo para demonstrar que sem apoio dos colonialistas é possível progredir.”

Ele lembrou que o Irã aceitou a solução mediada em maio de 2010 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan. “Eles (as potências ocidentais) responderam com uma nova resolução no Conselho de Segurança contra nós”, recordou Ahmadinejad. “Continuamos com nossa paciência e procuraremos negociações em vez de enfrentamentos. Mas seguramente defenderemos nossos direitos.”

Por outro lado, o presidente iraniano descartou uma resposta militar a uma escalada do conflito na Síria, seu aliado estratégico no Oriente Médio. Respondendo a uma pergunta do Estado, sobre o apoio aos rebeldes sírios por parte de rivais do Irã, como a Arábia Saudita e o Catar, ele disse que o envio de armas ou uma intervenção militar apenas agravariam a situação, e defendeu uma saída negociada.

Ahmadinejad, que veio de uma visita a Evo Morales na Bolívia, tinha previsto partir hoje de manhã para a Venezuela, para se encontrar com Hugo Chávez.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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