Jornais iranianos omitem protestos e confrontos

Eles preferiram destacar comunicado de Khamenei

TEERÃ – Os jornais de oposição desapareceram das bancas. As impressionantes imagens dos confrontos entre os manifestantes e a polícia nas ruas de Teerã, que correram o mundo, não estão nos jornais iranianos, sejam do governo ou considerados “independentes”. Eles preferiram dar destaque ao comunicado do líder espiritual do país, Ali Khamenei, recomendando aos iranianos que aceitassem o resultado da eleição.

“Líder Khamenei: ‘Jovens têm de tomar cuidado'”, diz a manchete de ontem do jornal independente Farheektegan. O jornal destaca o argumento do líder, de que mais de 80% dos eleitores compareceram (foram 85%, segundo a Comissão Eleitoral) e mais de 24 milhões votaram em Ahmadinejad. “É uma festa que causará desenvolvimento, glória e alegria ao país”, diz o líder. “Os inimigos tentam infiltrar-se entre o povo. Os jovens têm de tomar mais cuidado e os partidários de cada candidato não devem se manifestar de forma a dar oportunidade para os inimigos fragilizarem o Estado.”

Ao lado da manchete, há uma declaração do ministro do Interior, Sadeq Mahsouli, advertindo que vai “impedir todas as aglomerações ilegais e protestos”.

O jornal Etelad, considerado conservador e independente, também destaca em sua manchete uma frase de Khamenei. “Mensagem do líder: ‘Sexta-feira foi um dia inesquecível para o povo’.” E segue com trechos do comunicado.

O jornal Irã, pertencente ao governo, é mais factual em sua manchete: “10ª eleição com 24,5 milhões de votos para Ahmadinejad.” O texto afirma: “Os iranianos votaram pelo desenvolvimento, justiça, honra e a resistência contra a corrupção.” Há uma nota, abaixo, sobre as manifestações de sábado: “Partidários de Mir Hossein Moussavi protestaram contra o resultado. Mas o governo disse que não tem como cometer fraudes, porque o Conselho de Guardiães vigia o sistema eleitoral.”

Os sites que veicularam durante a campanha mensagens oposicionistas estão fora do ar desde sexta-feira. O sistema de mensagens pelo celular, muito utilizado pela campanha de Moussavi, também foi bloqueado. Mas ontem os usuários encontraram uma forma de burlar o bloqueio. No Irã, as mensagens para o exterior são mandadas para uma central diferente das nacionais. E as mensagens internacionais estão funcionando. O truque é mandar a mensagem para a central exterior, mas com o código do Irã e o número do telefone do destinatário.

Normalmente, o governo iraniano concede aos jornalistas estrangeiros vistos por períodos curtos, mas os estende quando no país. Dessa vez, foi diferente. Os jornalistas tiveram negados os seus pedidos de extensão de permanência no país.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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