‘Reeleição do presidente foi golpe de Estado’

Cientista político que escreveu discursos do candidato moderado diz que a política deverá dar lugar a ação nas ruas

TEERÃ – Said Laylaz sorri diante da chegada inesperada do repórter a sua casa: “Estou esperando os agentes de segurança virem me buscar.” Economista e cientista político, Laylaz escreveu os discursos de campanha do candidato moderado Mir Hossein Moussavi, além de ser um crítico contumaz do presidente Mahmud Ahmadinejad. Ele define assim o que aconteceu na sexta-feira: “Isso é de certa forma um golpe de Estado”.

Para Laylaz, não se deve esperar mais muita coisa de Moussavi e dos outros políticos de oposição. “A atividade política acabou. Agora, é hora da mobilização popular.”. Laylaz, que assim como sua mulher e seu filho adolescente não saem de casa desde a eleição, despediu-se do repórter do Estado com essa frase: “Eles ganharam a batalha, mas vão perder a guerra.”

O que significa a prisão dos líderes oposicionistas?

A Organização dos Mujaheddin da Revolução Islâmica, a Frente de Participação do Irã Islâmico e o Mosharekat (Cooperação), aos quais eles pertencem, são os únicos partidos reformistas que atuam dentro do Irã. Se forem banidos, significa que a atividade política dentro do país acabou. Teremos que pensar em outras formas.

O senhor acha que os votos foram contados?

Claro que não. As províncias deveriam contar os votos e enviar relatórios por fax para um centro de escrutínio, no qual os fiscais de todos os partidos podiam acompanhar a consolidação dos números. No domingo (dia7), quando se deram conta de que iam perder a eleição, eles criaram uma Câmara de Aglutinação dos Votos, com apenas três membros. A contagem foi totalmente secreta. Chamo isso de cozinha, porque foi onde eles cozinharam o presidente. Esses 63% que atribuíram a Ahmedinejad pertencem na verdade a Moussavi. Isso é de certa forma um golpe de Estado. A República Islâmica do Irã tem de se decidir entre uma democracia religiosa e uma ditadura.

Moussavi não é exatamente um reformista, mas um moderado, certo?

Há dois meses percebi que Moussavi era reformista. O conceito é obviamente relativo. Para ser reformista, alguém tem que querer que as coisas andem para a frente. Moussavi atende a esse critério. Veja, 80% do poder está nas mãos do líder (Ali Khamenei). Não faz tanta diferença assim se o presidente é Moussavi ou Ahmadinejad. Agora, os iranianos acreditam que a atividade política acabou. A verdadeira face do país está se desnudando, por causa desse erro estúpido do governo. Aladim não vai mais voltar para a lâmpada.

O que o senhor acha que Moussavi fará?

Ele tem muitas limitações. Não pode fazer mais do que já fez. Como disse, a atividade política acabou. Agora, é hora da mobilização popular, como você viu nas ruas. Os distúrbios vão acabar. A partir da tarde de amanhã (hoje), o regime vai impor uma segurança muito estrita. Mas a mobilização social está só começando. Como disse (o candidato reformista Mehdi) Karroubi em sua carta, “este é só o primeiro passo”.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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