A maior operação humanitária da história

Agências pedem doações de US$ 2,1 bilhões para programas de saúde e alimentos no Iraque

AMÃ – Representantes das agências da ONU em Amã detalharam ontem os planos para “a maior operação humanitária da história”, a ser posta em marcha no Iraque assim que as condições de segurança permitirem. Os coordenadores e porta-vozes das diversas agências que atuam no Iraque, transferidos para Amã por causa da guerra, fizeram um apelo por doações da comunidade internacional para custear o programa, orçado em US$ 2,1 bilhões.

A maior parte dos recursos – US$ 1,3 bilhão – será destinada à compra de alimentos suficientes para seis meses e sua distribuição durante três meses. “Estimamos que, depois disso, o governo iraquiano possa montar seu próprio programa de distribuição”, disse o porta-voz do Programa Mundial de Alimentos (WFP), o egípcio Khaled Mansour, sem entrar em detalhes sobre que governo seria esse. “São as autoridades que estiverem controlando cada região, sejam elas americanas ou iraquianas”, explicou um funcionário do WFP.

No Iraque, 60% da população – ou 16 milhões de pessoas – depende da distribuição de alimentos para sobreviver. Com o início do conflito, o programa Comida por Petróleo foi suspenso. Resolução do Conselho de Segurança aprovada na sexta-feira prevê sua retomada quando as condições no terreno permitirem. O WFP calcula que os estoques de comida das famílias iraquianas durem até o fim de abril.

Para evitar dependência ainda maior, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) adverte para a necessidade de salvar as safras deste ano, estimadas em 1,7 milhão de toneladas de grãos. “Se precisássemos importar isso, seriam 55 mil caminhões”, ilustrou um funcionário da FAO.

Mas comida não é o único problema. Em linhas gerais, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP) prepara a “assistência humanitária pós-guerra” em três áreas: reparos de emergência da infra-estrutura; criação de empregos via programas de reconstrução; e operações de retirada de minas. Os detalhes do plano refletem as múltiplas preocupações das agências da ONU, cujos funcionários iraquianos continuam trabalhando no terreno, e dão uma idéia da maneira como a guerra afeta a vida dos iraquianos.

A Organização Mundial da Saúde, por exemplo, pede US$ 325 milhões para comprar medicamentos, restaurar a infra-estrutura de saúde pública, já combalida com o embargo econômico imposto em 1990, e prevenir a proliferação de doenças com a interrupção dos serviços de saneamento. Antes da guerra, uma em cada oito crianças já morria antes de completar 5 anos, uma em cada três era mal nutrida e um em cada quatro recém-nascidos estava abaixo do peso.

O Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA) pede US$ 5,19 milhões para dar assistência às mulheres grávidas. De acordo com o UNFPA, “com ou sem guerra, mais de 2 mil iraquianas dão à luz todos os dias”. Dessas, 300 precisam de atendimento cirúrgico. Já o plano do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), de US$ 166 milhões, inclui a retomada e ampliação do ensino – uma em cada quatro crianças já estava fora da escola antes da guerra – e assistência psicológica para crianças traumatizadas pela guerra.

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