ONU alerta: guerra prolongada tratá catástrofe

População ficaria sem comida e colheitas seriam prejudicadas

AMÃ – A Coordenação Humanitária da Organizações das Nações Unidas (ONU) no Iraque advertiu ontem para a possibilidade de uma “catástrofe humanitária” em caso de uma guerra prolongada. Segundo a porta-voz da Coordenação, Veronique Taveau, 60% dos iraquianos, ou seja, 16 milhões de pessoas, dependem do programa “comida em troca de petróleo” para sobreviver. O programa, conduzido pela ONU, foi interrompido por causa da guerra.

“Os iraquianos são extremamente vulneráveis”, disse Veronique. “Antes da guerra, a situação já era muito difícil.” Metade das grávidas iraquianas está anêmica e 30% dos recém-nascidos estão abaixo do peso. Antes da guerra, o Programa Mundial de Alimentos (WFP) entregou aos iraquianos rações reforçadas para combater a anemia. O WFP estima que os iraquianos tenham reservas de comida para quatro a seis semanas.

O início da guerra coincide com o período de colheita da safra de inverno, que pode ser paralisada pelo conflito. Os ataques também devem comprometer a plantação para a safra da primavera, que deveria começar em seguida. A situação é agravada pela timidez dos doadores. O Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), por exemplo, calcula que precisará de US$ 60 milhões para atender a um fluxo esperado de 600 mil refugiados iraquianos. Até agora, só recebeu US$ 21 milhões.

Já a Organização Mundial de Saúde fez planos de contingência para seis meses, que envolvem US$ 12 milhões, mas, até agora, recebeu menos de US$ 1 milhão, segundo sua porta-voz para o Iraque, Fadela Chaib. “Estamos surpresos que, com a proximidade do conflito, a comunidade internacional se tenha mostrado tão pouco disposta a contribuir”, lamentou o porta-voz do Acnur, Peter Kessler.

Ainda não há concentração de refugiados iraquianos na fronteira. De acordo com o porta-voz da Organização Internacional de Migração, Chris Lom, até as 15 horas de ontem (10 horas em Brasília), 179 cidadãos de “terceiras nações” (nem iraquianos nem jordanianos) tinham cruzado a fronteira e aguardavam transporte para os respectivos países.

Há movimentos de pessoas dentro do país, por exemplo no norte, onde muitas famílias se deslocaram para a zona rural do Curdistão iraquiano, mas elas estão longe das fronteiras, afirmou Lom. Dois acampamentos, um para refugiados e outro para as “terceiras nações”, foram montados em Ruweished, a 50 quilômetros da fronteira da Jordânia com o Iraque. No meio do deserto, a área é atingida por ventos fortes e frios. Os acampamentos já têm água e comida, e a rede elétrica está sendo instalada.

Acampamentos semelhantes também estão sendo montados na fronteira do Iraque com a Síria e o Irã. Os funcionários estrangeiros das agências da ONU no Iraque deixaram o país e montaram suas bases em Amã. Mas, segundo eles, centenas de funcionários iraquianos – só o WFP tem 800 – continuam trabalhando no país.

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