Oposição iraquiana põe eleição sob suspeita

Números confirmam favoritismo da aliança liderada pelo primeiro-ministro Maliki

BAGDÁ – Os primeiros resultados das eleições parlamentares de domingo no Iraque foram divulgados ontem pela Alta Comissão Eleitoral Independente, em meio a controvérsias e suspeitas causadas pela demora na contagem dos votos. Apurados 30% em duas províncias de maioria xiita do sul, a aliança do primeiro-ministro Nuri al-Maliki estava na frente de seus rivais radicais xiitas. Mas os analistas afirmam que ainda é cedo para tirar conclusões, na falta de dados oficiais, mesmo preliminares, sobre as outras 16 províncias.

A aliança Estado de Direito, liderada pelo primeiro-ministro xiita, vencia com 42% dos votos em Babil e com 47% em Najaf. A Aliança Nacional Iraquiana (INA), formada por dois clérigos xiitas antes rivais, vinha em segundo lugar; em terceiro, a aliança Al-Iraqiya, de orientação secular, do ex-primeiro-ministro Ayad Allawi, que reúne xiitas e sunitas não sectários.

“Pelo que se sabe até agora, a composição para a formação de governo mais provável é entre Estado de Direito e INA, com Al-Iraqiya liderando a oposição, mas é cedo para fazer previsões”, disse ao Estado o analista político Sadeq al-Musawi, editor-executivo do Iraqi Media Center, grupo estatal de comunicação. A Al-Iraqiya foi bem votada nas províncias de maioria sunita no centro-norte e oeste do país. Mas os sunitas representam um terço da população e os xiitas, os outros dois terços.

“Esses resultados de Najaf e Babil não batem com os números que levantamos por intermédio de nossos delegados nos centros de apuração”, afirmou Nabil Mohammed, candidato a deputado pela Al-Iraqiya e professor de ciência política da Universidade de Bagdá. “Pelos números que temos, a Al-Iraqiya está na frente.” Mohammed disse ao Estado que 60% dos votos já tinham sido contados até ontem às 20 horas (14 horas em Brasília). Pelas normas, os resultados devem ser anunciados quando a contagem atinge 30% dos votos em cada província. À pergunta sobre por que eles não tinham sido divulgados, Mohammed respondeu que não sabia.

“Em todos os países os resultados são anunciados dois dias depois da votação. Só no Iraque demora tanto tempo”, disse Musawi. Segundo ele, os funcionários iraquianos da Comissão Eleitoral não sabem operar o software de apuração, fornecido pela Missão das Nações Unidas no Iraque (Unami). A chefe da equipe da Unami que supervisiona o processo eleitoral, Sandra Mitchell, é americana. Isso gerou rumores de que os Estados Unidos estariam pretendendo manipular a contagem em favor da Al-Iraqiya e de outros partidos pelos quais têm preferência.

Por causa disso, um grupo de deputados da INA procurou ontem o diretor da Comissão Eleitoral, Haidar al-Eibadi, e exigiu que os resultados sejam publicados no site do órgão antes de serem jogados no software fornecido pela Unami, para que possa haver um controle externo sobre a apuração. A reivindicação levou à divulgação dos primeiros resultados de Najaf e Babil.

Enquanto números mais abrangentes não saem, os partidos se movimentam visando a composição do próximo governo. Segundo Mohammed, há negociações em curso entre a Al-Iraqiya e a INA. Ele descartou a possibilidade de uma aliança entre o grupo de Allawi e o do primeiro-ministro Maliki: “Os dois querem encabeçar um futuro governo.”

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*